terça-feira, 2 de setembro de 2025

Os infortúnios da memória

 

Os dias vão passando e eu continuo com a mão leve, sem vontade de deixar ideias no papel. No passado fim de semana, uma conversa com um escritor e uma palestra que a outra ouvi foram o rastilho para deixar algo por aqui sobre a nossa querida memória.

Uma das razões para alguma prosa, que vou por cantos e papéis espalhando, prende-se precisamente com a vontade de deixar memórias gravadas.

O apagamento da memória é algo de inevitável, mas é doloroso quando os anos vão passando e a sentimos fugir. Com boa ou razoável memória, sempre fui invejando aqueles que sem qualquer esforço, sem exercícios ou técnicas de memorização, mostravam resultados melhores que os meus.

Hoje é muito penoso ter ouvido a seguinte justificação - «Não me lembro, porque estou cansado há 50 anos.» Nesses cinquenta anos de cansaço, muita memória foi passada a papel e os livros não se cansam. Basta abri-los e eles revelam toda a memória por este esquecida.

Na palestra, ouvi uma justificação para o comportamento actual face à partilha de antigas memórias que me deixou perplexo. Será que vale a pena, lembrar o passado sobre factos que os jovens de hoje dificilmente compreendem, porque a realidade em que vivem é totalmente diferente?

Como fui educado a valorizar o passado, eu diria que sim. Aqueles que ainda têm memórias devem partilhá-las. Porquê ler os clássicos? Já não querem as historinhas da avó? Por outro lado, os valores actuais, os interesses, as ferramentas que os jovens hoje utilizam não precisam do passado.

O grande problema é quando os “velhotes” falam do passado e estão a mostrar o futuro.