Os dias vão passando e eu continuo com a mão leve, sem vontade
de deixar ideias no papel. No passado fim de semana, uma conversa com um
escritor e uma palestra que a outra ouvi foram o rastilho para deixar algo por
aqui sobre a nossa querida memória.
Uma das razões para alguma prosa, que vou por cantos e
papéis espalhando, prende-se precisamente com a vontade de deixar memórias
gravadas.
O apagamento da memória é algo de inevitável, mas é doloroso
quando os anos vão passando e a sentimos fugir. Com boa ou razoável memória,
sempre fui invejando aqueles que sem qualquer esforço, sem exercícios ou
técnicas de memorização, mostravam resultados melhores que os meus.
Hoje é muito penoso ter ouvido a seguinte justificação - «Não
me lembro, porque estou cansado há 50 anos.» Nesses cinquenta anos de cansaço,
muita memória foi passada a papel e os livros não se cansam. Basta abri-los e eles
revelam toda a memória por este esquecida.
Na palestra, ouvi uma justificação para o comportamento
actual face à partilha de antigas memórias que me deixou perplexo. Será que
vale a pena, lembrar o passado sobre factos que os jovens de hoje dificilmente
compreendem, porque a realidade em que vivem é totalmente diferente?
Como fui educado a valorizar o passado, eu diria que sim.
Aqueles que ainda têm memórias devem partilhá-las. Porquê ler os clássicos? Já não
querem as historinhas da avó? Por outro lado, os valores actuais, os
interesses, as ferramentas que os jovens hoje utilizam não precisam do passado.
O grande problema é quando os “velhotes” falam do passado
e estão a mostrar o futuro.