O tempo de praia já passara - Junho, Julho, Agosto e agora,
as velhas tias ainda queriam que as fossemos visitar às termas onde passavam o
mês de Setembro e gostavam que lá fossemos ao fim de semana. As vindimas
estavam terminadas, pelos caminhos já não cheirava a vinho doce, aquele sumo
que nos dava volta à barriga, até fazia “soltura”…
Era tempo de voltar à escola. O dia 7 de Outubro tinha sido
instituído como o primeiro dia de aulas. Acabavam as férias grandes e ia
começar o novo ano escolar. Um novo ano….
Este hábito entranhou-se de tal modo nas nossas vidas que
ainda hoje a nossa agenda anual começa no Outono. Nos últimos anos de trabalho,
assim como ainda hoje para alunos e professores, o ciclo de um novo ano até
começa no Verão…, o “Regresso às Aulas” já é anunciado pelos folhetos
publicitários do mês de Agosto. Está
tudo mudado – e, como dizia o outro, “E assim se faz Portugal / Uns vão bem e
outros mal”.
“Férias” – hoje são desejadas, sonhadas, planeadas,
gozadas, recordadas, tema de conversas partilhadas, mas no tempo da outra
senhora, a palavra “férias” a poucos era destinada. Deixemos as crianças
estudantes, que sempre souberam o que eram meses sem ter de ir para a escola e
lembremo-nos que, nessa época, quem trabalhava não parava. Lá fora a OIT – a Organização
Internacional do Trabalho, em 1936, aceitou dar 6 dias de férias aos
trabalhadores. Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos do Homem reconhecia
a conquista de férias pagas. Mas por cá, só em 1976, com nova Constituição
aprovada, o direito a gozar férias passou a estar consignado em letra de lei.
Mas este prazer de férias pagas nunca foi para todos, ainda hoje basta lembrar
os trabalhadores a recibo verde, que ganham os dias que trabalham…
Procurar o conceito de “férias” nos membros trabalhadores da
minha família também não me ajuda, porque eu próprio comecei a actividade
profissional antes da revolução de Abril. Ninguém gozava férias…
Lembro-me dos horários de trabalho – 48 horas por semana –
conta fácil – 6 dias vezes oito horas e Domingo para descansar. Era a conta que muitos trabalhadores tiveram
de esperar, para ser alterada. Dividir por três as horas do dia – 8 para
dormir, oito para trabalhar e oito para o resto. O trabalho escravo de
sol-a-sol, do nascer ao pôr do astro-rei ainda vigorava no campo, mas a
indústria e o comércio foram melhorando.
Que privilegiado me senti, com o meu primeiro horário de
trabalho de 22 horas lectivas semanais. Era menos de metade… Mas foi sempre uma
ilusão - trabalhava-se a outra metade e nunca chegava, trazia-se sempre TPC.
Como filho do patrão, durante anos, nem tive direito a
trabalhar no regime de “Semana Inglesa”, que nos inícios dos anos
70 se começou a estender ao sector comercial. O horário inicial do comércio era
das 9h às 12h30 e das 14h30 às 19h, portanto 8 horas por dia, de Segunda a Sábado.
O regime de Semana Inglesa, reduzia o horário semanal para 44 horas, estando o
comércio aberto das 9 às 13h, aos Sábados de manhã, folgando-se assim à tarde.
O nosso comércio era “especial” e alargava o horário aos
Sábados, encerrávamos às 20 horas, ou seja, era semana de 49 horas de
trabalho legais, com horário de funcionamento afixado em local visível do
exterior.
A semana inglesa passou a ter outra interpretação quando os
trabalhadores exigiram o Sábado, como um dia inteiro de descanso. Tudo bem, mas
as quatro horas tinham de ser compensadas durante a semana.
Hoje, parece que não há limites para ninguém. As grandes superfícies
têm lojas abertas quase até à meia-noite, 365 dias por ano. A indústria e
muitos serviços podem trabalhar 24 sobre 24 horas, como agora se diz, e o pobre
trabalhador aceita um regime de turnos. Dorme de dia ou de noite, tanto faz. Há
de tudo, desde a isenção de horário de trabalho até um banco de horas e "se não
estás bem, vai-te embora".
Bem, eu é que tenho de voltar ao trabalho, porque não há
férias e o dia 7 de Outubro está a chegar. Prometo escrever.
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