Porque não havia meninas bonitas quando eu queria
Tive de chegar a esta idade para descobrir a razão de as
meninas bonitas da minha criação terem ido todas para freira.
Na minha procura de antigas quintas, porque as de hoje ou
são vinícolas ou para casamentos, deparei-me com a quinta do Cruzeiro, em Ermesinde.
Deveria ter sido enorme, porque as minhas memórias toponímicas daquele lugar são
marcadas por uma forte cruz de pedra e um café mais velho que eu, com uma
papelaria anexa, que partilhavam o topónimo ”Cruzeiro”.
Não sabia do primeiro nome de baptismo dessa quinta – pois para
mim foi sempre do Bom Pastor - que ainda como “do Cruzeiro” foi comprada pela
Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, em 1954 e que
provavelmente a re-baptizou. Ficava ali para cima quase a meio quilómetro do
Cruzeiro onde eu ia. Começaram a construir lá uma igreja e só em 1966 ficou
pronta. Eu até lá ia, dizíamos que era a igreja das freiras, mas as irmãzinhas ficavam
recatadas lá no convento anexo.
Agora sim, descobri a razão do desaparecimento das “proto-nubentes”.
Aqui por Paranhos, também havia um Bom Pastor, que hoje é quartel
central da PSP, porque os militares do Quartel de Transmissões saíram de lá com
o advento da Internet. Ora nas primeiras instalações, estiveram lá as tais
freirinhas, que, pasme-se, foram as responsáveis pelo desaparecimento das “gajas
boas de Ermesinde”, conforme RAP dizia.
Vamos a factos. Em 1899, morria a “Santa de Paranhos”, a irmã
Maria, secular alemã, condessa de Droste Vischering, que fundou o convento e foi
a sua Madre Superior, ali na Rua do Vale Formoso. Acontece que em 1936, o seu
corpo estava incorrupto e passaram-no para uma urna de vidro em 1944. O Papa João
Paulo VI beatificou-a em 1975. As moçoilas sentiam o chamamento e o seu número
aumentou de tal modo que tiveram de construir um novo convento em Ermesinde, expondo
na igreja a urna-relicário da irmã Maria. na dita quinta do Bom Pastor,
enclausurando aí todas as meninas bonitas do meu tempo.
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