segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Porque não havia meninas bonitas quando eu queria

Tive de chegar a esta idade para descobrir a razão de as meninas bonitas da minha criação terem ido todas para freira.

Na minha procura de antigas quintas, porque as de hoje ou são vinícolas ou para casamentos, deparei-me com a quinta do Cruzeiro, em Ermesinde. Deveria ter sido enorme, porque as minhas memórias toponímicas daquele lugar são marcadas por uma forte cruz de pedra e um café mais velho que eu, com uma papelaria anexa, que partilhavam o topónimo ”Cruzeiro”.

Não sabia do primeiro nome de baptismo dessa quinta – pois para mim foi sempre do Bom Pastor - que ainda como “do Cruzeiro” foi comprada pela Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, em 1954 e que provavelmente a re-baptizou. Ficava ali para cima quase a meio quilómetro do Cruzeiro onde eu ia. Começaram a construir lá uma igreja e só em 1966 ficou pronta. Eu até lá ia, dizíamos que era a igreja das freiras, mas as irmãzinhas ficavam recatadas lá no convento anexo.

Agora sim, descobri a razão do desaparecimento das “proto-nubentes”.

Aqui por Paranhos, também havia um Bom Pastor, que hoje é quartel central da PSP, porque os militares do Quartel de Transmissões saíram de lá com o advento da Internet. Ora nas primeiras instalações, estiveram lá as tais freirinhas, que, pasme-se, foram as responsáveis pelo desaparecimento das “gajas boas de Ermesinde”, conforme RAP dizia.

Vamos a factos. Em 1899, morria a “Santa de Paranhos”, a irmã Maria, secular alemã, condessa de Droste Vischering, que fundou o convento e foi a sua Madre Superior, ali na Rua do Vale Formoso. Acontece que em 1936, o seu corpo estava incorrupto e passaram-no para uma urna de vidro em 1944. O Papa João Paulo VI beatificou-a em 1975. As moçoilas sentiam o chamamento e o seu número aumentou de tal modo que tiveram de construir um novo convento em Ermesinde, expondo na igreja a urna-relicário da irmã Maria. na dita quinta do Bom Pastor, enclausurando aí todas as meninas bonitas do meu tempo.

Sem comentários:

Enviar um comentário