quarta-feira, 28 de maio de 2025

Ascensão à felicidade

 


Começo hoje com a Ascensão de Cristo, pintura a óleo, de 1520-30, de um pintor português, Frei Carlos.

A felicidade deve estar sempre em cima, por isso é necessário chegar a níveis superiores para a alcançar. É preciso levantar a cabeça, lembrar o rifão «quem quer a bolota ‘atrepa’» e pensar que o melhor dia é já amanhã – “o dia da Ascensão”.

Se olharmos apenas pelo lado religioso, este dia é móvel no calendário. Só é preciso contar 40 dias após a Páscoa, que não tem dia fixo. O número 40 aliás é citado inúmeras vezes nos textos bíblicos, por exemplo anos ou dias a passar no deserto, ou a subir montanhas, a fazer jejum ou a suportar o dilúvio, para depois alcançar melhores tempos. O calendário religioso assinala o dia, como o do aparecimento de Jesus Cristo após a Páscoa e o seu imediato desaparecimento, a ascensão (a subida) ao céu. Já agora se de tratar da Virgem Maria, a subida ao céu toma o nome de “assunção” – e a data da subida celebra-se a 15 de Agosto.

Se sairmos do religioso para o profano esta 5.ª feira da Ascensão toma o nome de ‘Dia da Espiga”. É pouco celebrado cá pelo norte, mas no centro e sul do país ainda tem fervorosos fiéis. Para o comemorar, fazem um passeio pelo campo, colhendo espigas de cereais, (trigo ou centeio) flores (malmequeres, papoilas), plantas silvestres e ramos de alecrim e oliveira, fazendo um ramalhete que há-de ser colocado atrás da porta (sempre livra do mau-olhado) e substituído no ano seguinte. Quando trovejar, há-de se queimar uns bocadinhos e rezar a Santa Bárbara. O dia é por alguns considerado “o dia mais santo do ano”, dizendo que não se devia trabalhar neste dia.

«Era chamado o "dia da hora" porque havia um momento em que tudo parava: pelo meio-dia, em algumas localidades e pelas 15 horas, noutras localidades, onde "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas de oliveira cruzam-se"»

O culto mariano também nomeou uma das ‘Senhoras’ – a da Senhora da Ascensão, a celebrar neste dia. Em algumas localidades temos outra ‘Senhora”, que aproveita a mesma data para sua evocação – é o caso da Senhora da Hora.

Aqui começam as minhas dúvidas, quando penso na “Senhora da Hora” de ao pé de casa. A festa é quinta-feira, dia da Ascenção, mas porquê “da Hora”, será que era a senhora da “tal hora”? Vamos à história…

Sem ir ainda às lendas, reza a história que «…em 1514, Aleixo Francisco possivelmente ligado à burguesia mercantil, e às actividades do mar, mandou construir uma capela: a capela de Nossa Senhora da Hora», nos Montes do Viso, mais ou menos ali pelo sítio da “Mãe d’água’, onde hoje se ergue a “igreja velha da Senhora da Hora”. Porquê? Teve a divina graça de ser pai.

 A Capela deve ter passado pela posse de vários devotos até às Inquirições de 1758, quando já se já registavam no recinto mais duas capelas – uma a S. Bartolomeu e outra à Senhora da Penha. A devoção maior foi sempre à Senhora da Hora e mais ainda quando a Virgem Maria apareceu lá perto da fonte.

Dizem que em 1893, transferiram uma pedra alusiva à aparição, do adro em frente à capela para a própria fonte, que foi então restaurada. Assim passamos a ter uma água milagrosa, que jorrava por sete bicas. É a tão afamada Fonte da Sete Bicas.

As romarias intensificaram-se, com os romeiros a diversificar caminhos e transportes. Se uns ainda vinham a pé, do Porto pela Falperra, Ramada Alta, Carvalhido e Viso, outros vinham em carroções, carros puxados a cavalo e até, depois de 1881, de comboio.  A linha da Póvoa, saía da Trindade, pela Boavista até à Fonte do Cuco, divergindo depois para Famalicão.

A festa da Senhora da Hora era das primeiras romarias do ano e era preciso pagar promessas. Algumas senhoras tinham de ir lá sentar-se na “cadeira obstétrica”.


Ouçamos primeiro as palavras de Hélder Pacheco e voltemos depois a esta cadeira. Diz-nos o estudioso que «… a cadeira obstétrica servia para dar à luz ou, segundo a tradição, para as mulheres se sentarem nelas e serem felizes no parto. Existia na Capela da Senhora da Hora e noutras igrejas, estando identificadas pelo menos 14, só no Porto» e outras nos arredores.

A do retrato na imagem acima é numa capela lisboeta – a Capela de Nossa Senhora do Monte e segundo a lenda está associada a São Gens, dono da cadeira, cuja mãe morreu de parto. É uma cadeira minúscula escavada na rocha e emoldurada por mármore róseo. Além de futuras mães que lá se sentavam a pedir uma “boa hora” também acorriam à cadeira as que tinham dificuldade em engravidar – diz-se que uma delas foi a D. Maria Ana de Áustria que lá se sentou pedindo a intervenção divina para ter filhos de D. João V.

Recorro mais uma vez às memórias e às palavras de Hélder Pacheco para evocar outra praxe ocorrida na capela da Senhora da Hora.

«Naquele mesmo dia (5.ª feira de Ascensão), no meio da missa solene, era uso das mães – camponesas e citadinas, rica e pobres – obrigarem os filhos, para que nunca viessem a sofrer do “mal da gota”, a epilepsia, a beber uma mistela esquisitíssima (verdadeiro nojo) de vinho fino com – adivinhem! – cordões umbilicais carbonizados de recém-nascidos, filhos de Marias, e os morrões das velas que ardiam durante a Semana Santa».

Era bem melhor beber água da Fonte das Sete Bicas. Mas quem a procurava não eram as grávidas mas sim os jovens que gostavam de cumprir a tradição – beber de um só folego, água das sete bicas – pois tinham casamento garantido nesse mesmo ano.

Para rematar fica a minha dúvida sobre as origens da Senhora da “Ora” ou da Hora. Será a invocada para interceder nos instantes de maior aflição - especialmente na hora do parto, seria a par das “irmãs” Senhora do Bom Parto, Senhora do Bom Sucesso, Senhora da Boa Hora, evocada pelas mulheres prestes a ser mães ou também pelos homens do mar para partir e chegar da pesca na “melhor hora”?  

Ou inicialmente seria só a Senhora do “dia da Hora”, a hora em que tudo parava ao meio-dia ou às três da tarde – aquele momento específico para intervenção divina?

Hei-de procurar saber mais.





segunda-feira, 26 de maio de 2025

Da Ponte da Pedra ao “cheirete”

 


Uma caminhada ao longo do “corredor verde” do Leça é sempre motivo para lembrar a nossa história, a infância e comparar com os tempos actuais.

A passeata começou na Ponte das Varas, vá-se lá saber a razão do topónimo, e começámos para ir estender o olhar, mais uma vez, à Ponte da Pedra. Da literatura às viagens no eléctrico n.º 7, a designação foi minha conhecida muito antes de ver o “monumento” com os meus olhos. O 7 ia para Ponte da Pedra, mas eu saía sempre antes.

Hoje, os meus olhos procuravam as margens aprazíveis do rio, onde os domingueiros do Porto e não só, iam refrescar-se, passando a tarde em passeios de barco a remos, a dez tostões à hora. Aqui as memórias são cinematográficas – recordo um documentário de 1930, que consultei na Cinemateca e que podia ser AQUI visto, mas que por qualquer motivo desapareceu. Valha-nos o YouTube, que ainda o conserva.


Hoje há fracos sinais do passado. À esquerda, na Godinho de Faria, antes de chegar à ponte, só restam as paredes do que foi o Palacete da Quinta da Ponte da Pedra.



Nem no ano de comemorações camilianas, os senhores do dinheiro se dignaram deitar mão a estas paredes e às pedras que cada dia que passa estão mais soltas e não nos deixam adivinhar o que ainda vemos nesta imagem de 1930 - a Estalagem da Ponte da Pedra.

Está escrito que Camilo, homens de letras e do dinheiro, na época para aqui se vinham deleitar, não só com os manjares da mesa – “uma pescada cozida com todos” ou “um ensopado de enguias” mas com outros prazeres da carne, trazidos dos tabuados dos teatros do Porto – coristas, bailarinas e actrizes. 

Os mais curiosos podem ler em “Aventuras de Bazílio Fernandes Enxertado” um pitoresco episódio, passado na Estalagem da Ponte da Pedra, numa homenagem a Mademoiselle Dabedeille, cantora do S. João. Camilo e amigos não convidados para a festa, conseguiram chegar à sala e por despeito, deram vivas à rival Madame Bellani, “feia, enfermiça, casada e por demais a mais honesta”. Ânimos alterados, apoiantes bem bebidos revoltaram-se e com copos de vinho  a voar pelo ar, só não conseguiram bater em Camilo, que lhes temeu as facas, porque um “dabedeillista” o salvou, dizendo: “Alto lá, que isto é tudo borracheira!”. 

Eu tenho dúvidas se a dita Estalagem ficava mesmo no Palacete, que mais tarde foi asilo de menores, lar de idosos, que depois vieram aqui para a “casa dos Pobres do Monte dos Burgos” e abrigo de outros necessitados.  As descrições dos autores coevos não me permitem tiram mais conclusões. No documentário é possível ver o Restaurante - cervejaria Teixeira, em frente ao Palacete, no lado direito, à entrada da Ponte, vários carros de praça e até um eléctrico que ali terminava a sua marcha. Será que a Estalagem era no prédio deste restaurante? Aqui ficam as minhas dúvidas.

Sei que foi propriedade da Quinta da Ponte da Pedra foi de António Augusto Correia Alves Guimarães, desde meados dos oitocentos até ao fim da 1.ª Grande Guerra. A última herdeira doou o prédio ao Estado e cá estão as ruínas, depois dos últimos incêndios, ficaram as pedras.

O que foi sempre muito reconstruída foi a ponte. Hoje podemos classifica-la como medieval, embora as suas origens sejam romanas. Talvez tenha sido a primeira ponte para travessia do Leça, na Via XVI do Itinerário de Antonino que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga), no I ou II século d. C.

A actual travessia é uma ponte de betão dos inícios do século XX, data em que a velha Ponte da Pedra passou a peatonal, mantendo-se sempre ali ao lado. Pelo menos uma placa vai contando um pouco da sua história, lembrando que fazia parte da “Estrada Velha”, a tal Via Veteris que saia do Campo do Olival, passava pelo de Santo Ovídio, por ali abaixo até Arca d’ Água e antes de chegar à Ponte da Pedra ainda tinha um ramal para o Mosteiro de Leça do Balio, que é quase oito centúrias mais recente, do século X da alta Idade Média. Deixemo-lo lá ao fundo, também entregue a outro “senhor do dinheiro” que até contratou o nosso grande arquitecto para deixar marcas modernas no caminho dos Hospitalários.

Ficam para outros caminhos, a Ponte de Ronfes e as pontes de Guifões, especialmente a do Carro, a mais bonita para mim, além da de Goimil, lá para a frente, já em Custóias. São todas pontes históricas, ainda hoje existentes, que merecem visita individual. Por falar em pontes do Leça, não posso deixar de dar nota das pontes que eu chamava “pontes romanas”, no meu caminho para a escola da Bela. Uma que eu mais usava, a montante, e a outra junto do moinho do Panelas, eram idênticas. Pontes à cota baixa, constituídas por compridas pedras de granito assentes em vários maciços de pedra, no meio do rio. Quantos invernos, não a atravessei, com água pelo meio das galochas, muito devagar, para não ser arrastado pela corrente.

Bem, procuremos disfrutar do passeio e da natureza, apenas. Não passam despercebidas as obras de arte do “corredor verde” a atravessar o Leça, nomeadamente a foz da Ribeira de Picoutos que entra no Leça a seguir a um açude artificial, que faz agitar bem a água. Se lá ainda houvesse um moinho, de certeza que se faria farinha. Quem da ribeira pouca farinha fez, foram os nossos alunos na década de 80, que tantas campanhas ecológicas fizeram para limpeza da Ribeira de Picoutos, o Leça continuou um dos rios mais poluídos do país.

Para que se faça farinha é preciso grão e víamos um tractor a semear milho em extensos campos lavrados à direita do Leça. Antes dizíamos que “o primeiro milho é para os pardais”, hoje foi para as gaivotas, que por ali abundavam com poucas pombas e meia dúzia de pegas rabudas, que iam debicando nos regos acabados de semear pelo lavrador-tractorista.

Mais perto de nós, só a vegetação ripícola ou ripária, como hoje se diz, mas que eu ainda chamo ribeirinha. Aqui e ali aparece uma plaquita informativa, mas pouco, para os conhecimentos de um leigo de botânica como eu. Quando eu era pequeno diziam-me “não percebes nada de agricultura e cria”, o que não impedia de aproveitarem a mão de obra infantil, para o amanho do quintal e dar de comer aos bichos, porque havia muitas bocas para sustentar.

Voltando às “ervas” que hoje vi, poucas conseguiria nomear, embora conhecesse algumas pelo seu nome vulgar, como as “línguas de vaca”. Uma pena não ter encontrado serradela para os grilos, nem leitugas para os coelhos. Beldroegas ou agriões para a sopa, não era ali o sítio, mas abundava a hortelã, na sua versão mais peluda, que em pequeno, eu confundia com erva-cidreira. Pensando nas ervas para o chá, falta-me o nome para uma infestante “irmã” da erva-príncipe. O aspecto é o mesmo, a forma esguia e triangular da folha, a textura áspera, só não tem o aroma da “princesa” que eu agora até cultivo na varanda. Para o chá, também servia o mastruço, só não usávamos as urtigas que hoje são tão beatificadas pelos herbologistas. Outra érva daninha, idêntica à príncipe, para mim, era a junça. Conheço-a desde os tempos da cultura da batata, quando entrava a família toda – um cavava a terra, outro abria o rego, outro chascava (quer dizer rapava uns cinco centímetros de terra com ervas para enterrar, previamente adubadas com estrume, por outro tirado da pilha e espalhado pelo campo), o mais pequeno punha as couves e as batatas e recomeçava o ciclo, com o cavador. Se a cavadeira apanhasse junça e cortasse os mini-tubérculos translúcidos, tínhamos a certeza que mais se alastraria no ano seguinte.

Pelo caminho ainda vi as dedaleiras, com as suas flores roxas em forma de sininho e mesmo umas espécies invasores, em zona identificada para serem eliminadas, chamam-lhes “bons-dias” e até são bonitas. Bem identificado está um belo exemplar de carvalho-alvarinho, com explicação da utilização da madeira, nos cascos para a boa pinga.

Má pinga estava logo a seguir, era tão fedorenta aquela água que víamos pingar para a “etar”, tal o cheirete que deixava no ar, que retrocedemos a sete pernas, sem vontade de continuar pelo “corredor verde”.


sexta-feira, 16 de maio de 2025

De volta aos Congregados

 

Não sei se é bom ou mau voltar ao sítio “onde fomos felizes” e encontrar tudo na mesma. Voltei aos Congregados e ao Monte Tadeu e o que descobri de novo foi apenas um topónimo que me tem escapado – a Travessa do Campo do Paiva. A história deste Paiva vai ficar para outra ocasião, porque mesmo com as vistas costumeiras, há sempre curiosidades que valem a pena contar.  Para outro dia também ficou a minha tentativa de subida à Torre dos Congregados, donde desfrutaria de um panorama inolvidável. Mas o mais fácil deve ser levar um drone e depois partilhar as imagens.

Hoje, troquei breves palavras com uma moradora do sítio mais alto da cidade e dei-lhe os parabéns pelas vistas espectaculares que tem da sua casa. Não valorizou as vistas, lamentou-se mais das más condições da sua casita alugada, ali no cimo do monte, construída há mais de uma centena de anos – talvez o último exemplar das inúmeras ilhas ali começadas por volta de 1897. Acho que já falei disso quando por aqui antes andei. Para chegar à casa desta portuense, é preciso vencer mais de 30 escadas de pedra e valham-nos os varões de ferro que a CMP por lá cravou, porque as nossas pernas precisam já de amparo. Quem não sobe escadas são as ambulâncias, não chegam aqui nem mais abaixo, onde a modernidade chegou para “refurbishing” de umas casinhas no fim de Anselmo Brancaamp, mas onde nem o automóvel lá vai.  Desse final da rua temos uma varanda com vista, por um lado para toda a extensão da rua e, para o outro lado, para um espaço tão esquecido dos portuenses que só lhe dão valor depois dos “apagões”.

Falo precisamente do campo do reservatório de água de Santo Isidro. A página na Internet das Águas do Porto, ainda hoje identifica vários espaços na cidade, onde se armazena água para consumo dos munícipes, que pode chegar para dois dias – mais de 125 mil metros cúbicos. Dois deles estão aqui perto um do outro – a Torre dos Congregados e o Reservatório de Santo Isidro.

À procura de imagens do sítio, encontrei numa revista da Sociedade Portuguesa de Química, um artigo do eminente cientista Professor Ferreira da Silva, intitulado “As águas do novo abastecimento do Porto”, de 1911, dados muitos interessantes sobre a importância do abastecimento de água à cidade, que foi concessionado pelo prazo máximo de 99 anos a uma companhia francesa – “Compagnie Génèrale des Eaux pour  l`Etranger”. A água era captada no Rio Ferreira e no Rio Sousa e chegava ao reservatório geral de Santo Isidro, vinda do “reservatório-tunnel em Jovim, através de um canal tubular de aducção, na extensão de mais de 12 quilómetros”.

«As dimensões internas do tunnel são 5 metros de largura máxima por 4m,50 de altura no fecho da abóboda. O serviço interior faz-se em pequenos barcos. […] Saíndo do tunnel-reservatorio de Jovim o cano adductor de ferro com 60 centímetros de diâmetro, segue a estrada de S. Cosme ao Porto, entra na cidade ao fundo da Rua do Freixo, depois ruas do Heroísmo, S. Jerónymo, Moreira, etc, até entrar no reservatório geral de Santo Isidro à cota de 125 metros.»

Muitas mais curiosidades por aqui figuram, por exemplo quanto à distribuição pelas zonas alta, média e inferior da cidade. «A zona alta é servida pelo reservatório dos Congregados, de 3940 m3 de capacidade que recebe água do de Santo Isidro, por meio de bombas aspirantes-prementes movidas por uma machina a vapor horizontal de expansão e condensação de força de 25 cavalos». A zona média é fornecida directamente pelo reservatório de Santo Izidro (ou de S. Jeronymo, por ficar adjacente à rua d'este nome).»

Ora certamente, hoje, estes “cavalos” já lá não estão a trabalhar e muito menos a “machina” movida a vapor, mas a verdade é que, ainda que não se veja nem ouça água a correr, muita há lá por Santo Isidro e talvez ainda a bombeiem para o depósito dos Congregados. Pelo menos, uma placa de obras ainda lá está. Em 2023, foi aberto concurso de mais de um milhão de euros para “Reabilitação do Circuito Hidráulico do Reservatório de Santo Isidro”, para alguma coisa foi…


A imagem é retirada do referido artigo, sendo ainda lembrada outra designação para o reservatório – “o de S. Jerónymo”, porque se localiza adjacente à rua, à data assim nomeada, mas em 1913 o actual patrono Santos Pousada tirou-lhe a “santidade”.

Voltemos aos “santinhos” e comparemos o antigo com o actual:

Um olhar atento consegue distinguir as dezenas de “respiradouros” que aparecem à superfície do campo. As laterais é que são diferentes. Os novos arruamentos obrigaram ao levantamento de muros, desaparecendo o fosso e ficando tudo à superfície. Já nem se fala das chaminés das fábricas que deram origem a “caixas de fósforos” empilhadas para substituir as” ilhas”.

Algumas marcas nos portões e noutras edificações – “escudo nacional” e “brasão da cidade” são um testemunho da “cidadalização” da inicial companhia das águas francesa. Parece que não estavam a cumprir o contrato e a cidade resolveu resgatar o contrato de concessão da água. Recorde-se que o contrato, não era vitalício, porque só pôde ser feito por 99 anos, mas a edilidade criou o SMAS – Serviços Municipalizados Águas e Saneamento, em 1927 e à custa de uma verba astronómica de 3.500 contos, nacionalizou ou “cidadalizou” a companhia e passou até hoje a gerir as águas do Porto.

O orgulho portuense deixou as suas marcas:


Outras marcos ficaram lá em cima do monte dos Congregados. Se compararmos a imagem a preto e branco de Ferreira da Silva com outras mais actuais, vemos que a Torre dos Congregados e os depósitos de água não são obra dos franceses, mas sim dos SMAS, pois distingue-se a data de 1938.


Imagem do Jornal ETC e TAL

Para acabar o dia fica uma imagem das traseiras da Cooperativa dos Pedreiros:

Marreta na mão contemplando a cidade, olhando para tantos sítios que mereciam umas boas marteladas