sexta-feira, 11 de julho de 2025

O seu assistente digital – Espera galego!

 

foto de blog

Bom dia, “Para se impacientar PRIMA 1; Para se estafar PRIMA 2; Para se irritar PRIMA 3; … Para resolver o seu problema DESLIGUE E VOLTE A LIGAR”.

Se em partilha anterior falei da desumanização nas compras, hoje elevo os meus queixumes para a prestação de serviços. Já não há empresa que prescinda dos seus assistentes digitais. Na publicidade até reconhecem a necessidade de a interlocução ser feita entre pessoas, mas primeiro há que “falar com as PRIMAS todas”. Quantos minutos, até horas não perdemos para conseguirmos um humano que efectivamente nos resolva o problema?

Afinal o que o assistente me mandou fazer foi “desligar tudo e voltar a ligar”, só que foi a vigésima-quinta ordem que me deu!

Felizmente, a maioria das empresas percebeu que era criminoso fazer-nos pagar por chamadas de valor acrescentado, e também já não precisamos de ficar com o auscultador no ouvido a ouvir música enervante, graças ao altavoz, o que também não resolve nada… Espera galego!

Rezam as crónicas que a expressão “espera galego” vem dos tempos em que houve forte emigração de galegos para Portugal. Se muitos ficaram pela província, trabalhando nos campos, muitos houve que tentaram a sua sorte nas grandes cidades, nomeadamente em Lisboa e no Porto. Lá em baixo, aglomeravam-se pela Capela de Santo Amaro, cá pelo Porto, o Largo de S. Domingos, as redondezas da Estação de S. Bento e até o Teatro de S. João seriam os seus pousos favoritos. Ficaram famosos os aguadeiros, os recoveiros ou moços de frete e até os condutores de cadeirinhas que levavam de volta a casa as senhoras que tinham vindo à ópera e ao teatro. Tinham de ficar à espera que os chamassem, daí o  – “espera galego!”.

A minha última indignação foi numa multinacional conhecida, num posto de colheita de sangue, para análises clínicas. Já conheci o espaço com quase meia dúzia de funcionários ou colaboradores como hoje querem dizer. Ao balcão estavam sempre duas pessoas a fazer o atendimento. Havia duas enfermeiras a fazer as colheitas e mais alguém para outros serviços administrativos ou de limpeza. Na última visita, o pessoal ficou reduzido a duas pessoas, com a ameaça de que na próxima seja “posto de colaborador único”.

Lembro-me das nossas irritações quando os autocarros também passaram a ser de “Agente Único”, tabuleta que exibiam ufanamente na frente.  Recordo que os carros eléctricos tinham o guarda-freios que conduzia e o condutor que cobrava os bilhetes. Nas janelas lia-se em letras vermelhas coladas “Se alguma janela aberta o incomoda, peça ao condutor que a feche”. Hoje é o motorista que põe o ar condicionado no máximo.

Mas voltando ao posto da multinacional, quando entramos já é nosso reflexo condicionado procurar o “tiqueteiro” para tirarmos o “tiquê” para a nossa vez.  Já não ouvimos – “quem está a seguir, por favor?” ou “Próoooximo!”. Fui à máquina tirar o bilhete. Não me dá papel e faz-me perguntas. Tenho de “escrever uma carta” para a máquina me aviar. Pede-me para escrever quase vinte algarismos que estão algures na minha receita em números pequeninos que nem os enxergo bem, depois quer outro código, depois quer outro, se me enganar volta tudo ao princípio. Afinal o “assistente digital” não é para eu tirar a senha da minha vez – é para eu fazer o trabalho de uma colaboradora que despediram. Lá dentro, também já não é necessária uma enfermeira especializada para me perfurar as veias – vai haver uma única colaboradora que faz tudo.

E lembre-se, para o ano nem essa cá estará – vai ser atendido pelo nosso robot “Unidlas”.

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