Bom dia, “Para se impacientar PRIMA 1; Para se estafar PRIMA
2; Para se irritar PRIMA 3; … Para resolver o seu problema DESLIGUE E VOLTE A
LIGAR”.
Se em partilha anterior falei da desumanização nas compras, hoje
elevo os meus queixumes para a prestação de serviços. Já não há empresa que
prescinda dos seus assistentes digitais. Na publicidade até reconhecem a
necessidade de a interlocução ser feita entre pessoas, mas primeiro há que “falar
com as PRIMAS todas”. Quantos minutos, até horas não perdemos para conseguirmos
um humano que efectivamente nos resolva o problema?
Afinal o que o assistente me mandou fazer foi “desligar
tudo e voltar a ligar”, só que foi a vigésima-quinta ordem que me deu!
Felizmente, a maioria das empresas percebeu que era criminoso
fazer-nos pagar por chamadas de valor acrescentado, e também já não precisamos
de ficar com o auscultador no ouvido a ouvir música enervante, graças ao
altavoz, o que também não resolve nada… Espera galego!
Rezam as crónicas que a expressão “espera galego” vem dos
tempos em que houve forte emigração de galegos para Portugal. Se muitos ficaram
pela província, trabalhando nos campos, muitos houve que tentaram a sua sorte
nas grandes cidades, nomeadamente em Lisboa e no Porto. Lá em baixo,
aglomeravam-se pela Capela de Santo Amaro, cá pelo Porto, o Largo de S.
Domingos, as redondezas da Estação de S. Bento e até o Teatro de S. João seriam
os seus pousos favoritos. Ficaram famosos os aguadeiros, os recoveiros ou moços
de frete e até os condutores de cadeirinhas que levavam de volta a casa as
senhoras que tinham vindo à ópera e ao teatro. Tinham de ficar à espera que os chamassem,
daí o – “espera galego!”.
A minha última indignação foi numa multinacional conhecida,
num posto de colheita de sangue, para análises clínicas. Já conheci o espaço
com quase meia dúzia de funcionários ou colaboradores como hoje querem dizer.
Ao balcão estavam sempre duas pessoas a fazer o atendimento. Havia duas
enfermeiras a fazer as colheitas e mais alguém para outros serviços administrativos
ou de limpeza. Na última visita, o pessoal ficou reduzido a duas pessoas, com a
ameaça de que na próxima seja “posto de colaborador único”.
Lembro-me das nossas irritações quando os autocarros também
passaram a ser de “Agente Único”, tabuleta que exibiam ufanamente na
frente. Recordo que os carros eléctricos
tinham o guarda-freios que conduzia e o condutor que cobrava os bilhetes.
Nas janelas lia-se em letras vermelhas coladas “Se alguma janela aberta o
incomoda, peça ao condutor que a feche”. Hoje é o motorista que põe o ar
condicionado no máximo.
Mas voltando ao posto da multinacional, quando entramos já é
nosso reflexo condicionado procurar o “tiqueteiro” para tirarmos o “tiquê”
para a nossa vez. Já não ouvimos – “quem
está a seguir, por favor?” ou “Próoooximo!”. Fui à máquina tirar o bilhete. Não
me dá papel e faz-me perguntas. Tenho de “escrever uma carta” para a máquina me
aviar. Pede-me para escrever quase vinte algarismos que estão algures na minha
receita em números pequeninos que nem os enxergo bem, depois quer outro código,
depois quer outro, se me enganar volta tudo ao princípio. Afinal o “assistente
digital” não é para eu tirar a senha da minha vez – é para eu fazer o
trabalho de uma colaboradora que despediram. Lá dentro, também já não é
necessária uma enfermeira especializada para me perfurar as veias – vai haver
uma única colaboradora que faz tudo.
E lembre-se, para o ano nem essa cá estará – vai ser atendido
pelo nosso robot “Unidlas”.
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