Minas em Paranhos?
Um facto importante para a freguesia de Paranhos está
documentado num texto catalogado, que consegui obter no Arquivo Municipal e aqui
anexo. Trata-se de um “Registo de Descobrimento de Minas”. Eu
interrogo-me - “minas” em Paranhos? Então isto não eram só terrenos agrícolas?
Em 6 de Julho de 1926, Charles Frederick Chambers, negociante,
viúvo, de 60 anos, súbdito inglês, assinou um Termo sobre descoberta de “Minas
de Caulino”.
A mina ficava em terrenos de diversos proprietários, mas o
termo é muito preciso na sua localização:
«… confronta a norte com a estrada da Circunvalação, poente
com a rua do Ameal, nascente com o caminho que vai do lugar da Igreja ao lugar
da Esprela e sul com a Travessa do Ameal.”
Além disso a localização ainda precisa o seguinte:
«... o ponto de partida fica a três mil e oitocentos metros do ponto trigonométrico Clérigos no rumo norte oito graus nascente…»
Os pontos trigonométricos ou partem dos Clérigos ou da Areosa.
O termo também foi assinado por Leslie Darrell Johnston, como
representante da Anglo Portuguese Clay Company, Limited, com sede na Senhora da
Hora.
Consultas posteriores revelaram que houve mais de 100
termos de descoberta de minas de caulino, entre 1920 e 1941, em vários
lugares de Paranhos e de freguesias mais ou menos vizinhas, como Viso de Baixo
e de Cima, lugares de Ramalde, Vilarinha (Fonte da Moura), Prado (Nevogilde).
Do outro lado da Circunvalação abrangeu as freguesias da Senhora da Hora, Leça
do Balio, Custóias e S. Mamede de Infesta. Quase todas eram a favor da mesma
companhia “Anglo Portuguese Clay”, ou a Companhia
Anglo-Portuguesa de Caulinos representada por vários engenheiros
portugueses e súbditos ingleses. Toda
esta área foi agrupada pela designação do Couto Mineiro de Matosinhos.
Através do porto de Leixões, foram exportados vários milhões de toneladas de caulino. Recordo que nos anos 60 e 70 ainda era possível ver “uns montes brancos” quando passávamos ali ao lado, na Circunvalação, como se vê na fotografia inicial.
Companhia Anglo-Portuguesa de Caulinos, Senhora da Hora:
Foto do
Centro Português de Fotografia
Com o fim da exploração das minas, em muitas delas,
formavam-se lagoas com as águas das chuvas A incúria dos responsáveis foi a
razão de algumas tragédias, como uma de 1994, ainda em arquivo da RTP, onde é
possível ver uma reportagem sobre uma criança de doze anos, que morreu afogada na
lagoa de uma mina desactivada na Senhora da Hora. Ver Tragédia
na Senhora da Hora.
Outro monte que desapareceu, na Senhora da Hora, foi o Monte
de S. Gens, na foto seguinte.
Nos finais do dezanove, por volta de 1884, a pedreira existente no monte de S. Gens, em Custóias, começou a ser profundamente explorada, porque havia a necessidade de construir o porto de Leixões, e era preciso muita pedra. Hoje seria betão… Muitos comboios de pedra saíram daquele monte, de tal modo que ao fim de poucos anos deixou de ser um monte. Os blocos de granito chegavam a pesar 50 toneladas e foram precisos uns gigantes – os Titans – guindastes movidos a vapor, para colocar a pedra no devido lugar. Passando hoje no paredão de Matosinhos ainda se vê um, que lá ficou para memória.
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