Notas biográficas de AUGUSTO DA COSTA CARNEIRO
Nasceu aos 26 de Abril de 1896, na freguesia de
Ermesinde, à altura designada por S. Lourenço de Asmes, numa família onde já
havia três irmãos e mais três haveriam de vir.
O pai, Agostinho da Costa Carneiro, era natural da aldeia da Cavadinha, na freguesia de Silva Escura, concelho da Maia, onde nasceu aos 15 de Outubro de 1859.O avô, Fortunato da Costa Carneiro, era natural da mesma freguesia de Silva Escura. Agostinho casou com 23 anos em 1883. Carpinteiro de profissão viveu e trabalhou numa carpintaria da Rua da Torrinha, no Porto, cidade com um recanto que o atraiu – o largo da Trindade -local onde se fazia uma feira de peles. O cheiro não seria agradável, mas a oportunidade de negócio foi boa. Agostinho estabelece-se por conta própria, ele próprio curte as peles compradas no Porto e começam a nascer tambores, bombos e pandeiretas. Estamos nas últimas décadas oitocentistas e depois vieram os brinquedos de madeira.
A mãe, Maria Moreira, nasceu a 20 de Dezembro de 1856, em S. Lourenço de Asmes. Depois do casamento foram viver para o lugar de São Paio, em Ermesinde, onde ela era moradora.
O meu avô Augusto traz os ensinamentos
dos seus progenitores, especialmente do pai, Agostinho da Costa Carneiro, [1] que
assinava “Agustinho" e tinha
por alcunha “o Vianês”, identificando-se os seus descendentes como – “os
Vianeses de Silva Escura”. Agostinho deve ser considerado, a partir de 1880,
como o primeiro fabricante de brinquedos.
Augusto depois de ter começado a sua actividade profissional nas oficinas do pai, acabou por emigrar para França, onde esteve poucos anos, em época do pós-primeira guerra, exercendo a sua profissão de carpinteiro, com o intuito de angariar dinheiro para pagar o seu dote de casamento.
Regressado a Portugal, com 30 anos, casou com Maria Rosa Marques da Costa, natural de Infesta, Matosinhos, aos 6 de Junho de 1926. Constrói casa de habitação com a Oficina de Brinquedos nas traseiras, situada na Rua de Miguel Bombarda, 460, em Ermesinde. Figura importante da freguesia, chegou a desempenhar o cargo de regedor.
Estamos nos finais da década de 20 – por volta de 1928. No ano seguinte, nasce-lhe a filha Emília Marques da Costa, que viveria a infância no meio das peças de madeira onde se especializou na pintura dos brinquedos. As pombas, as carrelas, os carros grandes e pequenos, as relas,as charretes de cavalo, os carros de bois, os carrinhos de bebé, os ciclistas ou as dobadouras, todos feitos em madeira de pinho, eram primeiro banhados em tintas de água quente e depois cuidadosamente pintados à mão, sem carimbos, com riscos, caras, círculos, ramos e flores pela mão da filha do fabricante, até 1956. Tendo ela também sido chamada pela emigração como o pai, as pinturas foram continuadas por operárias que ainda hoje recordo, a Palmira e a Florinda. O genro, Augusto Oliveira da Costa, nos primeiros anos de casamento, anos 50 do século passado, ainda ajudava na fábrica, onde aplicou os seus conhecimentos escolares de serralheiro mecânico, inventando e construindo pequenas máquinas mecânicas artesanais para a produção de peças, p.ex. campaínhas para os arcos, encaixes para os eixos de carrinhos e carrelas, cunhos e cortantes.
Augusto da Costa Carneiro faleceu com 64 anos, em Ermesinde, aos 23 de Setembro de 1960, encerrando-se também a fábrica, que terminou apenas com dois ou três operários. Ficou a oficina com inúmeras peças – asas de pombas, motores de carros, arcos sem campainha, centenas de campaínhas, rodas e rodinhas, pipas dos carros de bois, pernas e braços de ciclistas, um nunca acabar de bocadinhos de madeira que nunca deram corpo a brinquedos vendáveis, mas serviram de mundo de fantasia ao primeiro neto que ainda o conheceu em vida - eu próprio.
A esse mundo de fantasia, junto ainda a recordação do carro de mão,com enormes rodas, cintadas a ferro e com aros de madeira, carregado de brinquedos, a caminho da estação de Caminho de Ferro de Ermesinde. Aí as caixas de casqueira de pinho, que levavam dentro as dúzias de brinquedos embrulhadas em papel de jornal eram despachadas em grande e pequena velocidade. Os destinos das encomendas estavam marcados nos livros e nas centenas de bilhetes postais, com ilustração na frente esquerda, enviados pelos clientes com os pedidos. Eu, o neto, divertia-me a recortar os "postais ilustrados"(bilhete de postal normal, mas com imagem) [2], para alargar os meus conhecimentos de história e geografia. Adorava ver aquelas imagens alusivas a acontecimentos históricos ou de sítios e monumentos de todos os recantos de Portugal, com especial incidência para o Minho, Beiras e Alentejo, onde havia maior número de clientes.
Da oficina de brinquedos, restavam agora as máquinas – a serra de fita foi oferecida à carpintaria do Centro Social de Alfena, as serras circulares, os vários tornos, as bancas e ferramentas artesanais foram levadas pelo tempo.
A nossa memória ficou imortalizada nos moldes dos brinquedos, desenhados por Augusto Costa Carneiro, que não tendo marca registada, foram emprestados (para sempre) ao sobrinho César Duarte Ferreira (filho de sua irmã Maria da Costa Carneiro, de Sampaio) que ficou com os moldes para os seus descendentes – o seu filho Aurélio Ferreira e para o genro deste, Manuel Gonçalves Moreira, que herdou a oficina do sogro. César Ferreira dedicava-se especialmente ao fabrico de tambores e pandeiretas, trabalhando com peles como o seu avô Agostinho. Este Agostinho, o Vianês, faleceu a 22 de Setembro de 1939 e teve a sua arte continuada, para além do filho Augusto da Costa Carneiro e dos descendentes da filha Maria e seu marido António Duarte Ferreira, pelos seus filhos mais velhos Agostinho e António.
Pomba de agora, baseada nos nossos moldes
Dados compilados por Amaro Costa, neto de Augusto da Costa Carneiro.
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