1864 - Mapa de
Portugal ”deitado”
Hoje é difícil ver um turista com um mapa em papel na mão. Muitas vezes, nem o telemóvel está na mão. Seguem o itinerário que uma voz mais ou menos maviosa lhe sopra ao ouvido. Já ninguém nos pergunta onde é a rua tal. E sempre fomos tão solícitos e poliglotas…
A história de hoje foi espoletada por um momento de
“acompanhamento de estudo” ao meu neto, que vai ter teste de Estudo do Meio.
Ora no manual do 1.º ano, da dita disciplina, explicando o que é um itinerário
e obrigando-o até a seguir e a traçar caminhos num desenho de um percurso casa-escola,
há também uma “modernice”, um QrCode. Remete-o para uma explicação sobre
o que é um mapa digital, neste caso, o “Google Maps” e incita-o à sua
utilização, para a descoberta da localidade e até do modo de visualização da
rua.
Vou deixar as modernices e vou à procura de representações
geográficas da minha meninice, naturalmente daquelas onde conhecíamos o mundo
só no papel. Sabíamos muita corografia e geografia no papel. Podíamos nunca ter
andado de comboio, mas sabíamos de cor as linhas ferroviárias e os ramais,
nunca tínhamos visto água a correr, mas debitávamos todos os rios, afluentes da
margem direita e da margem esquerda, mares, baías, golfos, canais, estreitos,
angras ou enseadas, lagoas de Portugal continental, insular e ultramarino.
Nunca tínhamos subido à Serra da Estrela, mas sabíamos o nome e a altura de
grande número de serras e acidentes orográficos. Tudo isto à custa de MAPAS!
Também fazíamos mapas… em papel vegetal, copiávamos por cima
de outro e depois legendávamos conforme as necessidades. Neste que eu fiz, vejo
que a serra do Montemuro, onde havia um emissor de rádio, ao pé da Gralheira, tem
1382 metros de altura. E quantos angolanos, hoje, conhecem os antigos nomes das
suas terras e países vizinhos?
Aqui não faltavam mapas em papel, é claro, analógicos como
hoje se diz. Mas além dos nossos livros, também os tínhamos nas agendas e mesmo
pendurados na parede do quarto de estudo.
Não havia automobilista, que não se fizesse acompanhar de um
mapa de estradas. O ACP, anualmente, oferecia um mapa, actualizado, aos seus
associados.
Acabando com as estradas, deixo hoje, em cima, a imagem de
um mapa de Portugal “deitado”, de 1864, quando ainda não se sabia o que eram
auto-estradas. No entanto, as várias cidades e ‘villas’, cabeças de distrito ou
não, estavam ligadas por estradas macadamizadas. Repare-se que, no mapa,
o traço grosso, o mais visível, era para “as linhas férreas” e o mais fino para
a modernidade “macadamizada”. Começava a era do macadame. Para quem não sabe o
que isso era a Wikipedia dá a sua ajuda.
Dos caminhos de terra, às estradas de paralelo e às de macadame foram uns anos de evolução. A minha rua em Portocarreiro era de macadame. A última camada de piche/alcatrão era demasiado fina e após um ou dois invernos, já era um roliço de pedras soltas. As nossas estradas reais passaram a ser empedradas. Recordo a de Monte dos Burgos ainda ser de paralelo. Todas as ruas mais antigas que dela se ramificam ainda hoje mantêm o mesmo paralelo. São exemplos a do Padre Rebelo da Costa ou a de S. Luzia. Muitas vezes, descubro paralelos que estiveram junto aos carris dos eléctricos e que por isso, apresentam um desgaste da roda de ferro que “não cabia” no carril e desgastava o paralelo. Às vezes também aparecem uns paralelepípedos muito regulares, brancos ou vermelhos. Estes não são de pedra, mas sim de betão pintado e serviam para fazer as passadeiras.
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