sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Mapas analógicos vs digitais

 

1864 - Mapa de Portugal ”deitado”

Hoje é difícil ver um turista com um mapa em papel na mão. Muitas vezes, nem o telemóvel está na mão. Seguem o itinerário que uma voz mais ou menos maviosa lhe sopra ao ouvido. Já ninguém nos pergunta onde é a rua tal. E sempre fomos tão solícitos e poliglotas…

A história de hoje foi espoletada por um momento de “acompanhamento de estudo” ao meu neto, que vai ter teste de Estudo do Meio. Ora no manual do 1.º ano, da dita disciplina, explicando o que é um itinerário e obrigando-o até a seguir e a traçar caminhos num desenho de um percurso casa-escola, há também uma “modernice”, um QrCode. Remete-o para uma explicação sobre o que é um mapa digital, neste caso, o “Google Maps” e incita-o à sua utilização, para a descoberta da localidade e até do modo de visualização da rua.

Vou deixar as modernices e vou à procura de representações geográficas da minha meninice, naturalmente daquelas onde conhecíamos o mundo só no papel. Sabíamos muita corografia e geografia no papel. Podíamos nunca ter andado de comboio, mas sabíamos de cor as linhas ferroviárias e os ramais, nunca tínhamos visto água a correr, mas debitávamos todos os rios, afluentes da margem direita e da margem esquerda, mares, baías, golfos, canais, estreitos, angras ou enseadas, lagoas de Portugal continental, insular e ultramarino. Nunca tínhamos subido à Serra da Estrela, mas sabíamos o nome e a altura de grande número de serras e acidentes orográficos. Tudo isto à custa de MAPAS!

Também fazíamos mapas… em papel vegetal, copiávamos por cima de outro e depois legendávamos conforme as necessidades. Neste que eu fiz, vejo que a serra do Montemuro, onde havia um emissor de rádio, ao pé da Gralheira, tem 1382 metros de altura. E quantos angolanos, hoje, conhecem os antigos nomes das suas terras e países vizinhos?

Com estes mapitas, sabíamos onde fica a Gronelândia, que hoje o Trump quer comprar, que o Canadá fica ali a espreitar e ele pretende que venha a ser o 51.º e até sabíamos que a Rússia já tinha abocanhado toda a Ucrânia.

Deixo aqui as capas de alguns livros por onde estudei estas coisas, algumas preciosidades…


Aqui não faltavam mapas em papel, é claro, analógicos como hoje se diz. Mas além dos nossos livros, também os tínhamos nas agendas e mesmo pendurados na parede do quarto de estudo.

Não havia automobilista, que não se fizesse acompanhar de um mapa de estradas. O ACP, anualmente, oferecia um mapa, actualizado, aos seus associados.

Acabando com as estradas, deixo hoje, em cima, a imagem de um mapa de Portugal “deitado”, de 1864, quando ainda não se sabia o que eram auto-estradas. No entanto, as várias cidades e ‘villas’, cabeças de distrito ou não, estavam ligadas por estradas macadamizadas. Repare-se que, no mapa, o traço grosso, o mais visível, era para “as linhas férreas” e o mais fino para a modernidade “macadamizada”. Começava a era do macadame. Para quem não sabe o que isso era a Wikipedia dá a sua ajuda.


Só após a implantação da república em 1910, as estradas foram renumeradas para EN (Estradas Nacionais), até então naturalmente seriam “Reais”. Sei que a nossa rua do Monte dos Burgos, como inicialmente era saída da cidade, foi numerada como Estrada Real n.º 30.
Dos caminhos de terra, às estradas de paralelo e às de macadame foram uns anos de evolução. A minha rua em Portocarreiro era de macadame.  A última camada de piche/alcatrão era demasiado fina e após um ou dois invernos, já era um roliço de pedras soltas. As nossas estradas reais passaram a ser empedradas. Recordo a de Monte dos Burgos ainda ser de paralelo. Todas as ruas mais antigas que dela se ramificam ainda hoje mantêm o mesmo paralelo. São exemplos a do Padre Rebelo da Costa ou a de S. Luzia. Muitas vezes, descubro paralelos que estiveram junto aos carris dos eléctricos e que por isso, apresentam um desgaste da roda de ferro que “não cabia” no carril e desgastava o paralelo. Às vezes também aparecem uns paralelepípedos muito regulares, brancos ou vermelhos. Estes não são de pedra, mas sim de betão pintado e serviam para fazer as passadeiras.


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