Hoje não está tempo para passeios, pelo
que vou voltar aos meus escritos aqui sobre Paranhos, para tentar melhorar
alguma coisa e quiçá descobrir mais. Sabemos bem que a maior parte da freguesia
(dois terços, pelo menos) pertencia ao Cabido da Sé, que, ao longo dos
séculos, foi emprazando as suas terras.
Andei ali às voltas de uma quinta vizinha
- a do Tronco e, nos mapas do Arquivo Municipal, encontrei dois lugares
com topónimos curiosos - Agueto e Revolta.
Por aqui fechado, vou desta vez vou
recorrer à IA, para saber coisas sobre ‘agueto’.
Acho que ”nã agueto mais” e
vou voltar ao Marçal para aprender alguma coisa. Referindo-se ao ‘agueto’,
recorda-nos que havia vários ‘Aguetos’, além da quinta, havia o campo do Agueto,
no Casal da Fonte. Como Horácio Marçal sabe do que fala, vou
transcrever-lhe as palavras, para ver se alguma IA vem cá lê-las:
«Agueto – é de supor que o
nome por que este lugar é conhecido derive de agueiro – rego onde se juntam
as águas das estradas – ou agueira – sulco que conduz as águas de rega
ou buraco nos muros por onde passam as águas aproveitáveis para a cultura.
Aqui existiu a Quinta do Agueto ou do “Mecha”».
Continuamos a falar de águas e a
manancial de Paranhos é a principal culpada pela formação destes aguetos e
destas regueiras, que se reflectiram na toponímia. A maior quinta ali pegado
era a do Regado, pois a ribeira da Arca d’ Água trazia-lhe o solo sempre
regado. A quinta das Regueiras ainda ficava mais próxima da Fonte
da Arca.
Assim, em duas penadas, estou onde quero,
rodeado por água e nas minhas sete quintas. Cada dia que passa, mais
quintas me aparecem. Aqui abaixo, uma planta de Teodoro de Sousa Maldonado, do fim
do século XVIII.
Voltando à planta do Monte de Além,
que aparece identificado no centro da imagem, saliento a Quinta do Corvo
(canto esquerdo), situada à face da Estrada de Braga, actual Rua do Amial.
Aponta-se também aqui o Casal de Monte Rico que também ficou conhecido
como Casal do Amial. No ponto A, em baixo, indica-se o caminho para o Agueto
e em cima, a partir do ponto C, o caminho para o lugar da Telheira. Um
ponto verde em cima à direita da imagem é assinalado como “o coradouro
que deve ficar público”, No ponto Z
estão marcadas “as pedreiras e praça que ali devem ficar para uso público”. Já o ponto E está marcado como “o rocio para
sahida dos gados e logradouro público”.
Ainda neste Casal do Monte Rico
havia os campos do Marco e do Amial, recebendo o do Amial, água
da Fonte da Arca. A renda era a seguinte: «trezentos réis em dinheiro, três
alqueires de trigo, meio alqueire de pão meado, 4 galinhas; por lutuosa, por
falecimento de cada uma das vidas, outro tanto como a renda de um ano e de
laudémio das compras, vendas e trocas 4-1 (a quarta parte do preço por que
fossem feitas)».
Nesta descrição estão já aclarados alguns
conceitos, obscuros em rendas antigas – ‘lutuosa’ e ‘laudémio’,
mas a eles voltarei.
Passemos agora à vizinha Quinta da Telheira, que também ficava no “lugar do
Aguêto”
António José da Maia e Silva herdou-a de
seu pai José Maia e Silva. Era uma propriedade com aproximadamente 16 hectares.
Tinha largas culturas de feijão, batata, centeio, castanheiros, árvores de
fruto e até vinho verde. Além disso, tinha aviários e touros de reprodução com
que concorreu a exposições pecuárias onde arrecadaram muitos prémios.
Desde o Amial até à Igreja de
Paranhos, podíamos tentar localizar um número infindável de propriedades
rústicas e casas de lavoura de amplo domínio territorial. Horácio Marçal
enumera algumas dessas quintas vizinhas. Só alguns exemplos: Quinta da
Azenha, Quinta do Outeiro, Quinta do Lampianista, Quinta do Oliveira, Quinta
Seca de Currais, Quinta Seca de Covelo. E pronto, só com estas, lá estou
outra vez nas minhas 7 quintas.
À data de 1848 era possuidor da Quinta da
Telheira, Thomás Alves Guimarães, que nesta data pede licença à Câmara” para
continuação de huma mina d’água já principiada, pretende fazer hum ou mais
óculos para uma mina de água, no lugar do Aguêto”. Quarenta anos mais tarde, ainda temos o mesmo
proprietário desta quinta a pedir licença para abrir umas janelas num prédio.
A minha memória não recorda algumas das
edificações recentes da zona da Telheira e infelizmente as pesquisas são
difíceis. Ninguém conta nada sobre nada. Por exemplo, quando abriu o Hotel
Boega, depois Beta e agora Belver Beta Hotel, na esquina da
Rua do Amial com a rua da Telheira? Não sei, sei que hoje está fechado um hotel
de 4 estrelas de cento e muitos quartos, que foi à falência em tempos que os
hotéis nascem na cidade como cogumelos. Recordo que os meus filhos, quando
andavam na primária no Luso Francês, iam fazer natação na piscina deste hotel.
Deve datar, pois dos finais de 80, inícios de 90.
Já o topónimo “Revolta”,
encontra-se na freguesia vizinha de S. Mamede de Infesta (venda de um pedaço de
devesa) e no nome de uma quinta em Campanhã.
E dá muita “revolta” a pouca informação que encontrei sobre este lugar.
Post Scriptum:
Tanta "água meti" que esqueci as alpondras. Diz Marçal sobre a Rua Nova do Tronco, que ia da Capela à Telheira:
«A passagem em dias de chuva, em alguns sítios, tem de ser feita por sobre uma espécie de ALPONDRAS e noutros por um passadouro de pedra em sítio mais elevado, que felizmente ainda existe para uso das raras pessoas que se aventuram a fazer tão arriscada travessia.»
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