quarta-feira, 2 de abril de 2025

Livra a peanha

 

A expressão “livra a peanha” significa “devolve o prato”. Quem diz prato, diz qualquer objecto utilizado para transporte de algo que se oferece ou empresta a alguém. Era modo de dizer, cá no Norte, quando a vizinha, vinha pedir emprestado, uma malga de arroz ou uma “mancheia” de salsa. Assim, conforme o produto, a “peanha” podia ser uma cesta, uma travessa, qualquer coisa que não o objecto que se designa comummente por “peanha”. Camilo chama-lhe “continente” em oposição ao “conteúdo”.

“Peanha ou pedestal” é um suporte onde normalmente se coloca algo em pé. Podemos ter uma peanha para colocar a imagem de um santo ou um simples vaso de flores.

O lado satírico de Camilo revela-se no entremear de situações cómico-burlescas no meio da tragédia, do recurso a ditos jocosos, a apartes ou até a anedotas.

A propósito deste dito popular, Camilo conta-nos uma história de um juiz seu antepassado, da família dos Brocas.

«Certo dia, mandaram-lhe um presente de pastéis em rica salva de prata. O Juiz de fora repartiu os pastéis pelos meninos e mandou guardar a salva, dizendo que receberia como escárnio um presente de doces, que valiam dez patacões, sendo que naturalmente os pastéis tinham vindo como ornato da bandeja.»

Eu diria a este propósito – O juiznão livrou a peanha”.

«No entanto, em Vila Real, quando se dá um caso análogo de ficar alguém com o conteúdo e o continente, diz a gente da terra: “Aquele é como o Doutor Brocas.”»

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