A expressão “livra a peanha” significa “devolve
o prato”. Quem diz prato, diz qualquer objecto utilizado para transporte de
algo que se oferece ou empresta a alguém. Era modo de dizer, cá no Norte, quando
a vizinha, vinha pedir emprestado, uma malga de arroz ou uma “mancheia” de
salsa. Assim, conforme o produto, a “peanha” podia ser uma cesta, uma travessa,
qualquer coisa que não o objecto que se designa comummente por “peanha”. Camilo
chama-lhe “continente” em oposição ao “conteúdo”.
“Peanha ou pedestal” é um suporte onde normalmente se coloca
algo em pé. Podemos ter uma peanha para colocar a imagem de um santo ou um
simples vaso de flores.
O lado satírico de Camilo revela-se no entremear de
situações cómico-burlescas no meio da tragédia, do recurso a ditos jocosos, a apartes
ou até a anedotas.
A propósito deste dito popular, Camilo conta-nos uma história
de um juiz seu antepassado, da família dos Brocas.
«Certo
dia, mandaram-lhe um presente de pastéis em rica salva de prata. O Juiz de fora
repartiu os pastéis pelos meninos e mandou guardar a salva, dizendo que
receberia como escárnio um presente de doces, que valiam dez patacões, sendo
que naturalmente os pastéis tinham vindo como ornato da bandeja.»
Eu diria a este propósito – O juiz “não livrou a
peanha”.
«No
entanto, em Vila Real, quando se dá um caso análogo de ficar alguém com o
conteúdo e o continente, diz a gente da terra: “Aquele é como o Doutor
Brocas.”»
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