sexta-feira, 7 de março de 2025

Marques da Silva desenha e o Bispo enterra lá um tesouro

 

O arquitecto Marques da Silva desenha o Bairro e o Bispo do Porto enterra lá um tesouro

Ali pelos finais da rua Constituição, por onde ficaria um cemitério para animais, em terrenos camarários, foi erguido um dos primeiros Bairros Operários.

Estavámos em final do século XIX, a pressão industrial era imensa e a necessidade de mão de obra e de emprego sujeitava os trabalhadores a condições pouco humanas.  Para agravar a situação a peste grassou pela cidade e a taxa de mortalidade subiu como nunca dentro da classe trabalhadora.

O auxílio veio de quem hoje nunca se esperaria – da comunicação social. Foi o jornal “O Comércio do Porto” o responsável pela angariação de fundos, especialmente junto da população emigrante no Brasil, conseguindo mais de 30 contos, para a construção do Bairro Operário d’ O Comércio do Porto – um conjunto erigido em 1899, no Monte Pedral, sob projecto do arquitecto José Marques da Silva (1869-1947).

Na verdade, construíram-se não um mas sim três bairros – nas Antas, em Lordelo do Ouro e no Monte Pedral.

Quero debruçar-me um pouco mais sobre este último, que tem aspectos que julgo deverem ser recordados. A começar pela mão do arquitecto  Estamos a falar de um bairro social e foram convidar para o desenho, nem mais nem menos do que o mais importante arquitecto do Porto, responsável por um conjunto de obras monumentais que vão da Estação de S. Bento, Teatro S. João, Igrejas, os Liceus Alexandre Herculano e D. Manuel, palácios e palacetes, monumentos, obras funerárias, um nunca acabar de trabalhos desde 1895 até aos anos 40.  No meio de tudo isto desenhou o  – Bairro Operário d’ O Comércio do Porto. O projecto de 1899 previa a construção de 14 casas e foi depois continuado em 1904, por outro arquitecto, para a edificação de mais 12 casas suplementares. A Câmara tomou a seu cargo a gestão das casas.

 No meio dos meus bosquejos, deparo-me de vez em quando com pequenas preciosidades que muito aprecio. Neste caso, foi o Auto de Lançamento da Pedra Fundamental deste bairro. Gosto de ler aquelas mensagens que tantas vezes passam despercebidas, mas que muitas vezes encerram pormenores interessantíssimos.

Algumas casas do Bairro hoje ameaçam ruína, mas acho que deveriam dar alvíssaras a quem descobrisse o “tesouro” que o bispo D. António Barroso, lá deixou enterrado. Depois, têm de ir falar com o presidente Rui Moreira, para lhes entregar a chave do cofre. Lembrem-se “tem moedas de prata, ouro não…”.

Transcrevo as últimas linhas só para aguçar o apetite àqueles que andam com o detector de metais à cata de tesouros:

«… sendo depositado no cofre para este fim destinado e bem assim as moedas de prata e cobre correntes na época actual, fechando-se à chave, que ficará guardada no archivo dos Paços do Conselho, procedendo-se à colocação do mesmo cofre na cavidade da pedra fundamental do Bairro…».



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