O arquitecto Marques da Silva desenha o Bairro e o Bispo do Porto enterra lá um tesouro
Ali pelos finais da rua Constituição, por onde ficaria um cemitério
para animais, em terrenos camarários, foi erguido um dos primeiros Bairros
Operários.
Estavámos em final do século XIX, a pressão industrial era
imensa e a necessidade de mão de obra e de emprego sujeitava os trabalhadores a
condições pouco humanas. Para agravar a
situação a peste grassou pela cidade e a taxa de mortalidade subiu como nunca
dentro da classe trabalhadora.
O auxílio veio de quem hoje nunca se esperaria – da
comunicação social. Foi o jornal “O Comércio do Porto” o responsável pela angariação
de fundos, especialmente junto da população emigrante no Brasil, conseguindo
mais de 30 contos, para a construção do Bairro Operário d’ O Comércio do Porto – um
conjunto erigido em 1899, no Monte Pedral, sob projecto do arquitecto José
Marques da Silva (1869-1947).
Na verdade, construíram-se não um mas sim três bairros – nas
Antas, em Lordelo do Ouro e no Monte Pedral.
Quero debruçar-me um pouco mais sobre este último, que tem
aspectos que julgo deverem ser recordados. A começar pela mão do arquitecto Estamos a falar de um bairro social e foram convidar para o desenho, nem mais
nem menos do que o mais importante arquitecto do Porto, responsável por um
conjunto de obras monumentais que vão da Estação de S. Bento, Teatro S. João,
Igrejas, os Liceus Alexandre Herculano e D. Manuel, palácios e palacetes, monumentos,
obras funerárias, um nunca acabar de trabalhos desde 1895 até aos anos 40. No meio de tudo isto desenhou o – Bairro Operário d’ O Comércio do Porto. O
projecto de 1899 previa a construção de 14 casas e foi depois continuado em
1904, por outro arquitecto, para a edificação de mais 12 casas suplementares. A
Câmara tomou a seu cargo a gestão das casas.
Transcrevo as últimas linhas só para aguçar o apetite àqueles
que andam com o detector de metais à cata de tesouros:
«… sendo depositado no cofre para este fim destinado e bem
assim as moedas de prata e cobre correntes na época actual, fechando-se
à chave, que ficará guardada no archivo dos Paços do Conselho, procedendo-se à
colocação do mesmo cofre na cavidade da pedra fundamental do Bairro…».
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