Rua do Monte Pedral - Começo por recorrer a um
excerto de uma licença de 1866, para salientar a importância do Monte Pedral,
no fornecimento de pedra para as construções na cidade. O requerente bem não
queria tirar a licença, para acabar o muro… […sendo-lhe preciso acarretar mais alguns carros de pedra do
Monte Pedral, só na ocasião em que o pedreiro alevantar ou descarregar a pouca
pedra à beira do muro, não embaraça nada nem o trilho dos carros, nem a gente,
mas como não hé permitido descarregar pedra alguma no caminho público sem
licença ...].
Muita pedra saiu deste monte para obras públicas e
particulares. Germano Silva
tem sempre boas histórias para contar e no seu livro “Passeios pelo Porto de Outros Tempos”, conta-nos o seguinte, a propósito do transporte da pedra
em carros de bois. Estava em construção o Hospital de Santo António: “…decorria o ano de 1852. Os empreiteiros iam buscar a pedra às ricas
pedreiras do monte Pedral. Um dia havia para transportar um bloco de proporções
fora do vulgar. Era de tal envergadura que, tendo sido cortada e carregada num
dia, só ao fim da tarde do dia seguinte chegou ao seu destino. E para o transporte
foi utilizado um carro especial com quatro rodas puxado por nove juntas de bois.”
O monte foi aberto para dar continuação à rua da
Constituição, construída em várias fases, projectada em 1870, só em 1890
passaria o Monte Pedral, a parte mais trabalhosa e a que demorou mais anos.
A actual Rua do Monte Pedral liga a Rua da
Constituição à Rua Damião de Góis, e tem na sua vizinhança mais dois
topónimos ligados a montes – a do Monte do Cativo, paralela, ligando as
mesmas ruas e a Travessa do Monte Louro, que foi despromovida, porque já
li documentos sobre a Rua Nova do Monte Louro. Se descêssemos até ao
Carvalhido ainda ficaríamos em terrenos do Monte de S. Paulo, esse
completamente desaparecido da toponímia ou dos mapas mais recentes.
Quanto ao Monte
Pedral, se recuarmos uns séculos, em 1732, era mais Perral (de “perros”,
de cães) – talvez porque ainda não lhe tivessem descoberto os pedregulhos. A
verdade é que mais tarde teve lá um cemitério de cães.
Alguns registos
curiosos sobre este topónimo anterior:
1706 – “… o
campo da Cavada e uma bouça junto dele, o “monte Perral” ao pé da Falperra,
eram pertença do Casal do Ribeiro”.
1715 – referências “…a terras do Monte Carvo, no Monte Perral, no Monte Corvo e
no Monte Louro,” estes dois últimos ficavam perto um do outro.
1732 – registam-se “… terras saídas do Cal Ribeiro. Junto ao Monte Perral, que
por volta de 1860 se localizava no seguimento da rua das Valas para o Bom
Sucesso”.
Numa planta de 1839, podemos verificar os acidentes orográficos ainda existentes à volta do principal
- o Monte Pedral. Assim a poente, este tinha o Monte de S. Paulo
e a sul, o Monte Cativo. Para norte, além de ruas projectadas em
direcção ao Carvalhido, sobressaia o Monte das Regueiras. Ainda
existiria o “Monte Santo” por onde ficaria o Reduto das Medalhas. Ainda
não encontrei marcações do Carvo ou Corvo e do Louro.
Abro um
parêntesis nos “montes” só para relembrar uma história lida na toponímia de
Eugénio Andrea Cunha e Freitas, a propósito da personagem que deu novo nome à Rua
Nova do Monte Louro, hoje denominada Rua do Almirante Leote do Rego.
Pelos vistos, também andou por essa época um bordão na boca do povo - «Que
mais queres tu, ó Daniel?» Jaime
Daniel Leote do Rego, foi militar interventivo na instauração da República e
envolveu-se em conflitos militares no ultramar, e talvez por isso a Toponímia o
tenha escolhido para figurar ao lado de outras ruas de antigas “províncias
ultramarinas”. Voltando à estória, dizem que Leote do Rego era muito vaidoso e
tinha a sua pessoa em grande estima. E tal como a madrasta da Branca de Neve,
gostava de falar com o espelho, e dizia em voz alta «Tu és elegante, tu és
bonito, as mulheres gostam de ti, que mais queres tu, ó Daniel?»
Embora
pertencendo ao Monte Pedral, a Rua do Almirante Leote do Rego tem algo
muito visível e algo muito escondido. A visibilidade está no grande muro de
granito do Complexo da Piscina da Constituição que tem entrada
por esta rua. O que está escondido são as traseiras do Quartel dos Bombeiros
Sapadores do Porto, que tendo muito granito na entrada da Constituição
escondem muito das suas instalações aqui ao lado desta rua. Mas o que fica
mesmo escondidinho, cuja entrada se faz por uma abertura num edifício recente é
a Vila Pinto. Trata-se de um bairro de, pelo menos, uma dúzia de casas
em fila, nas traseiras do n.º 172, que já figuravam nas fotografias áreas da
cidade dos anos 30. Hoje em dia ainda é sua transversal a Travessa do Monte
Louro. Quanto à rua “deste monte” foi particular, mas desapareceu da toponímia.
Voltando à rua
do Monte Pedral, os serviços sociais “fugiram da rua”. A Unidade de Saúde do
Monte Pedral fica na rua Adolfo Coelho. A Associação, a Capela do Monte Pedral
e a Igreja Metodista ficam na Rua José Pacheco do Monte, até o quartel do Monte
Pedral tem entrada pela rua de Serpa Pinto. E afinal o que ficou na rua do Monte Pedral?
Umas casinhas de rés-do-chão, algumas com cara lavada e pouco mais.
Rua José Pacheco
do Monte – É a
continuação da Rua do Monte Pedral. Inicialmente era a Rua do Nogueira.
Ainda não descobri quem foi o tal “Nogueira”. Sei que o Bispo do Porto, comprou
um terreno ao lado da Casa das Religiosas e da Associação das Escolas Jesus,
Maria e José e mandou construir aí uma capela, inaugurada na véspera do Natal
de 1928. É a actual igreja/capela do Monte Pedral.
Mais ruas “do
monte” ainda caberiam neste bosquejo, mas as principais estão por aqui
contadas.
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