Apanha das "ditas cujas"
na esquerda do Cávado.
- Venha cá ver. Eu uso uma meia de vidro e olhe quantas apanho de uma só vez. Tem de ter é uma coisa destas.
O objecto suscita curiosidade – aquele cabo verde fluorescente indicia a provável proveniência de uma loja de chineses. Visto de perto é uma imitação cuidada de uma vulgar cana da índia, nós perfeitos, tramos irregularmente distanciados, apetecia pegar só para ter a certeza de que não é um pau pintado. Na ponta, um cesto de malha fina, ainda muito branco – poucas vezes foi à água.
- E na outra cana, a de pesca a sério, já saía um robalinho de meio palmo, devia voltar para de
onde veio, mas… Ah, este é melhor do que o muge! Cá para mim eram mesmo iguais.
Fugiram dos pais e foram iludidos pelo isco ou pelo cheiro pestilento de primos
em decomposição.
Uns metros à frente, com o passadiço já a terminar, está uma cachopa que "sabe da poda". Os artefactos são mais prosaicos – nada de chinesices nem peças íntimas femininas – um saco de batatas, agora de sarapilheira sintéctica, quase forrava uma caixa de fruta, já não de madeira, mas de um plástico azul tão desbotado tantas vezes que já desceu à água, amarrado com cabo de algodão macio, no mesmo tom azulado para não espantar os bichos. Lá dentro o isco e logo ali ao lado mais duas fieiras igualmente armadilhadas .
– É sardinha? Qualquer um serve – sardinha, carapau,
cavala – tem é de estar
Lá sobe mais uma vez a caixa, dentro mais vêm meia dúzia deles.
- Como os come? Só cozidos?
- Sim e muito picante – piripiri. Estes, vermelhos por baixo - não vi nenhuns - são os melhores!
- Agora
já está a passar a hora – é bom é quando a maré está a encher…
PS - As "ditas cujas" são as maravilhosas navalheiras, marisco de pobre.
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