“Se não sabe, porque é que pergunta?”, dizia-nos e publicou obra João dos Santos - hoje estou nesse dilema. Não sei e acho que não devo perguntar, mas fiz o que um jovem de hoje faz à mesa do restaurante, quando lhe falta o saber - rapa do telemóvel e pede ajuda ao Dr. Google. Também fui “googlar”, como eles dizem, “escola do cadela” e ouçam os resultados. Deixo só os três primeiros, porque a maioria também não lê mais e contenta-se com isso:
1. Academy for Dogs and Families. 2. Escola de cães. 3.
Centro de recolha oficial de animais.
Fiquei elucidado. Eu até andei na “escola da cadela”
e nunca por lá vi dogs, nem cães, nem gatos, só ganapos. Éramos meia
dúzia de ganapos que a Mestra educava, com objectivos vários conforme os fins e
as idades. Podia ser para “abrir os olhinhos” aos mais pequeninos que iam
entrar para a escola, podia ser para ajudar os mais lerdinhos a fazer os
trabalhos de casa, podia ser para não esquecer o aprendido durante as férias
grandes, que na altura duravam mais de três meses ou até podiam ser os adultos
que precisavam de fazer o exame do 1.º grau (3.ª classe) ou até o do 2.º grau
(4.ª classe), que já abriam portas no mundo do trabalho. Ele já tem a 4.ª
classe!
Neste caso, a Escola do/da Cadela era uma salinha,
mais ou menos clandestina, orientada por uma mestra amadora, particular, que era
aceite pela comunidade. Hoje podia ser uma “sala de estudos”, um “ATL – Atelier
de ocupação de Tempos Livres” ou ainda “A Mestra” que tem quase o estatuto de “Explicadora”.
A expressão muitas vezes refere-se também a escolas
oficiais. Ainda há pouco, a escola onde estudou o escritor Rentes de Carvalho,
em Gaia, foi tema de uma marcha de S. João, em que o quadro era a escola primária
do escritor, conhecida pelo povo como “escola da cadela”.
Também em Bragança, a rivalidade existente entre a escola
Emídio Garcia e a Abade de Baçal materializava-se na distinção entre os meninos
do liceu e os da “escola da cadela” – a escola Industrial e Comercial. Aqui
já há sentido pejorativo, que é o que se vê no uso comum da expressão.
No entanto, embora a graça da expressão esteja no seu
sentido pejorativo, esse é que eu não sei de onde vem.
Nas conversas do dia-a-dia, e muito nos comentários das
redes, topámos com a “Escola do/da Cadela”.
“Deve ter estudado na escola do cadela” pode
referir-se a um ignorante armado em esperto ou ao julgamento de qualquer “erro
de palmatória” ou “pontapé na gramática” com que nos deparamos nos meios de
comunicação. “A escrever do jeito que escreve o senhor andou foi na
escola do cadela...”
Também serve para nos vangloriarmos da nossa esperteza saloia,
nas conversas de caserna, como bem se ilustra com “Cuidas que andei na Escola
do Cadela? Por acaso tenho escrito lorpa na lapela?”.
Os políticos são alvo fácil da expressão: «Aprenderam
todos na escola do cadela: cozinha sempre tu e não largues a panela.
Era assim que diziam os analfabetos da minha aldeia no tempo da ditadura
quando eu era pequena e não percebia.». Eu cá não deixo o pensamento só para
os analfabetos, nem para o tempo da ditadura…
Para concluir fica o dilema e a ignorância – “Escola do ou da Cadela”? Qual dos dois é mais pejorativo? Quem inventou a expressão?
Sem comentários:
Enviar um comentário