Quanto nomes já não teve o fórum da cidade do Porto e seus passeios adjacentes.
Comecemos pelo sítio, pelo chão térreo que pertencia ao
Casal de Pai (ou Paio) de Novais, onde cresceram as hortas dos Bispos, como o
Campo do Hilário ou o Faval onde construíram o Convento de Avé Maria (1528),
que depois de demolido deu lugar à Estação de S. Bento (1896). Durante muitos
anos, a designação primeira foi Campo das Hortas (antes dos setecentos),
onde a água também nunca faltou. Nem nas fontes, primeiro a Fonte da Arca,
depois a da Natividade, que deu ali nome ao largo, nem a água para lavar, ali
no lavadouro da Maria Manuela. A água andou sempre por ali, muito à superfície,
de tal modo que muitos anos mais tarde ainda justificava o epíteto, com que
Guerra Junqueiro a mimoseou – simplesmente o Poço. Uma praça com Portas
– a dos Lóios de um lado e a dos Carros de outro.
Riscou-se depois a Praça Nova das Hortas, em 1721,
desaparecendo o aposto Campo, para lhe dar outra dignidade. As hortas também
foram desaparecendo e durante muitos anos ficou só a Praça Nova.
Com a revolução liberal de 24 de Agosto de 1820, a vereação
portuense, já com edifício na praça, mudou-lhe o nome para Praça da
Constituição, em 1820. Faltava um monumento para a praça ter outras
honrarias. Inauguraram-lhe a pedra fundamental, mas durou pouco. Em 23 de Julho
de 1823, grados absolutistas, mandaram demolir a pedra sem nascer o monumento.
Mais tarde duas forcas foram erguidas na praça e lá foram executados os
Mártires da Liberdade. Mas, D. Pedro derrotou definitivamente as tropas
Miguelistas e a Praça é outra vez liberal. Até muda de nome mais uma vez – passa
a Praça de D. Pedro (IV), em 1833.
Praça, passeios e cafés em volta foram sempre lugares
apetecidos. Se uns e umas gostavam de ir janotar à Calçada dos Clérigos,
outros deixavam os seus gestos políticos, literários, mundanos ou simplesmente
pataratas, ali pelo Pasmatório dos Lóios, dos Congregados até às
Cardosas, que à época ainda eram do pai Manoel Cardoso dos Santos, contractador
de tabacos.
É preciso chegar a 9 de Julho de 1862 para ver a colocação
de nova pedra fundamental, onde erigir um monumento em honra do Rei-Soldado. A
inauguração foi quatro anos mais tarde, a 19 de Outubro. O monumento custou 30
contos de réis, com o Imperador em estátua equestre, fundida em Bruxelas,
assente num pedestal, com dois baixos-relevos em mármore de Carrara. Os
saudosistas parece que chamavam à praça, a do Cavalo do Zé que t’Achas.
Com a República já implantada, a vereação quis alterar o nome
para Praça da República, em 13 de Outubro de 1910, dado que tinha
sido ali da praça que, na revolta de 31 de Janeiro de 1891, tinha sido
proclamada a 1.ª tentativa republicana. O nome não foi consensual. Quem merecia
o topónimo era o Campo da Regeneração, onde efectivamente começou o movimento
republicano do 31 de Janeiro. A praça deveria ser da Liberdade. Assim, fica República lá em cima, e a vereação aprova o último topónimo - Praça da
Liberdade, em 27 de Outubro de 1910.
Concluindo, tantas praças com topónimos distintos tem a Invicta, mas a primazia foi sempre para esta, de tal forma que até as chapas dos eléctricos traziam simplesmente ”PRAÇA” e toda a gente sabia qual era.
Nota de rodapé: Vai com letrinhas pequeninas, porque a importância é grande e merece história separada noutro dia.
Lembro-me de muitos fins de tarde de 31 de Janeiro e de 1.º de Maio, quando a polícia vinha com os chanfalhos a carregar na gente, o carro nívea com altifalante em cima, que dizia para as pessoas alheias à manifestação se afastarem e de imediato o canhão de água largava tinta azul indelével sobre o povo, que para além de ficar com a roupa estragada, ficava marcado para onde quer fugisse. O Café Imperial foi meu refúgio, mais do que uma vez.
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