Se recuarmos aos primórdios do século XX, reconhecemos que foi na Rua José Falcão que o Animatógrafo deu os primeiros passos na cidade, em duas salas – uma majestosa, espetacular como foi logo qualificada na memória descritiva, que foi inaugurada em 1904, na esquina da rua com a Rua da Conceição e outra, mandada construir em 1912, por Manuel Ferrás Brandão no n.º 42, perto do mísero espaço a que ficou em tempos reduzida a Livraria Leitura, e hoje ocupado por um cabeleireiro e outro "comedouro".
Um
espectacular animatographo…
O edifício do animatographo
passou para uma companhia de seguros, no n.º 221, até há poucos anos ligada ao
ramo - a Açoreana Seguros, que antes teve designações mais curiosas como “Companhia
de Seguros O TRABALHO” ou “Companhia de
Seguros de Desastres no Trabalho”.
As reminiscências do cinema permaneciam até há pouco tempo em algumas
paredes das Galerias Lumière, onde até aos anos 80, o Cinema Lumière, com duas
salas, mostrou nas suas matinés muita película europeia e não só, que fugia ao
domínio de Hollywood, mas já mostrava em tela de Cinescope (ou "cinema aos
copos", como dizíamos).
O parque de
estacionamento que fica ali acima foi durante muitos anos uma central de
camionagem para as carreiras da Linhares que nos levavam até Vila do Conde e
Póvoa do Varzim. No n.º 196, funcionou em 1913 a “Garagem Silva”, mandada
construir pelo sr. António da Silva. No n.º 76 a Garagem Minerva abrigava os
veículos em 1926.
As obras sucediam-se na rua e os requerimentos
à Câmara Municipal eram caligrafados e os desenhos feitos a régua e esquadro, no
tempo em que não havia computadores…
Cumprimentava-se com “Saúde e Fraternidade”. Repare-se nesta beleza destes vários pedidos de licenciamento. No início do século XX, construíam-se aqui mansões para habitação, indústria, comércio, serviços e até igrejas.
Garagem Silva
Os Abrunhosas da época
(1908) não se dedicavam à música, acharam que uma garagem para reparação de
automóveis, mesmo junto à Fábrica da
tacha, seria um melhor negócio, pelo menos para os pneus…
E para viver, os
Abrunhosa escolheram um terreno mesmo junto à Igreja Evangélica que também existia na rua em 1908.
Por dez mil réis de “mel coado” tudo se autorizava…
Mas tudo com hygiene, especialmente nas “latrinas”, que infelizmente hoje em dia são as paredes e os recantos dos prédios.
A publicidade nos finais
do XIX, inícios do século XX, dava também os seus primeiros passos. Até há poucos meses, podia reparar-se na
fachada do Interposto Comercial e Agrícola,
que servia como imagem do postal ilustrado. Já não pode ir do n.º 158 ao nº 176
e comparar o prédio com este postal.
Vai tudo abaixo...
Aqui, como em muitas outras ruas pela cidade e pelo país, reedificou-se muitas vezes para pior. Repare-se nas imagens seguintes: um exemplar de 1921 que acabou por desaparecer para dar corpo a mais uma obra dos banqueiros do BES.
E nunca mais o banco se endireitou ...
assim como a rua, que é cada vez mais "para os copos".
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