Abençoados sejam os que nos ensinam e eu gosto de aprender, especialmente sobre assuntos de que penso saber alguma coisa. Hoje vou dar a mão à palmatória e revelar a minha ignorância.
(in Arquivo do Porto)
Vou às memórias de infância, buscar imagens do Palácio que
nessa época já não era de Cristal. Era simplesmente – o Palácio. Íamos ao
Palácio ou à feira popular, passear, comer umas sardinhas, fazer uns furos nos
chocolates da Regina, ver o Chico ou o leão Sofala, conforme os interesses
etários, no decorrer de tantos anos.

Quando a Rosa Mota foi campeã do mundo e depois mudaram o
nome do Palácio para Pavilhão Rosa Mota, achei muito bem – era uma alteração
merecidíssima. Nunca ligamos muito à designação Pavilhão dos Desportos e o nome
da nossa Rosinha era o orgulho tripeiro.
Há poucos anos, nova investida e eis que somos surpreendidos
com nova mudança – Superbock Arena (Pavilhão Rosa Mota em letras pequeninas).
Nunca aceitei isso e agora vejo que foi só por ignorância.
Vi há dias um programa do Joel Cleto, a falar da Superbock,
onde revi muitas imagens e conhecimentos da minha infância. Naturalmente que
não vivi os primeiros tempos na Praça da Liberdade, com fábrica da cerveja na
rua do Laranjal, em 1890, nem sequer os da Fábrica Leão na rua da Restauração.
Estas instalações visitei-as muitas vezes já com outro dono e outro ramo. Eram
duas pessoas que eu conheci, empregados de um armazém de ferro e ferragens, do
Joaquim da Silva Torres, junto às Escadas dos Guindais – o Sr. Santos,
empregado de balcão e o sr. Diógenes, vendedor. Fizeram sociedade e formaram
uma grande empresa de ferragens e utilidades domésticas – Diógenes & Santos,
ocupando todo o espaço da fábrica Leão, na Restauração.
Nesses anos, passava todos os dias pela fábrica da CUFP na
rua da Piedade, contígua à de Fiação dos Marinhos. Se a da CUFP se estendia
quase até ao Palácio, a dos Marinhos ocupava o resto do quarteirão quase até à
rua de Vilar. Quantos camiões carregados de cerveja e refrigerantes da Invicta
eu vi sair daquele portão….
Nessa altura, eu só tinha idade para a laranjada Invicta. Quando
em Portugal a Coca-Cola estava proibida, na Venezuela – havia coca-cola para as
cubas libres, para os grandes e “Pepsi para os niños”. Este niño só
tinha direito a malta – Malta Caracas.
Voltando à terra e ao cimo de Júlio Dinis, ficava a
Cervejaria da CUFP, na outra extremidade da fábrica, mas os meus tostões ainda
eram muito parcos para as tainadas de marisco acompanhadas de girafas (enormes
canecas de cerveja). Não bebi, mas vi beber… Mais uma vez – Foi tudo abaixo!
Mota & Companhia e Montepio ergueram por ali “caixas de
fósforos” que nunca mais acabavam. Ainda deixaram um cantinho com jardim,
chamando a Sofia para emparelhar com a Rosalia de Castro na Praça da Galiza.
Mas até o Jardim da Sofia desapareceu. Quando as escadas para a estação do
Metro estiverem prontas, voltaremos a ter poesia…
Quanto à minha ignorância – a primeira cerveja da CUFP que
recordo – a Cristal - deveu o seu nome, precisamente ao Palácio de
Cristal, que à data ainda existia, como tal. Na Exposição Industrial de
1926, a cerveja recebeu o Grand Prix e três medalhas de ouro. Era um precioso “Crystal”.
A empresa parece ter contribuído para a economia do Palácio que retribuía com as suas belas vistas aos clientes das “bejecas”. Segundo o Cleto, anos mais tarde, um mestre cervejeiro criou a tal Bock, tão extraordinária, que era uma “Super Bock”. Pronto, aceitemos que se actualizada a toponímia do Palácio, seja da cerveja Cristal para a SuperBock, assim fica tudo em família.
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