sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O Palácio e a cerveja Cristal

Abençoados sejam os que nos ensinam e eu gosto de aprender, especialmente sobre assuntos de que penso saber alguma coisa. Hoje vou dar a mão à palmatória e revelar a minha ignorância.

(in Arquivo do Porto)

Vou às memórias de infância, buscar imagens do Palácio que nessa época já não era de Cristal. Era simplesmente – o Palácio. Íamos ao Palácio ou à feira popular, passear, comer umas sardinhas, fazer uns furos nos chocolates da Regina, ver o Chico ou o leão Sofala, conforme os interesses etários, no decorrer de tantos anos.


(esta foto veio daqui)

Quando a Rosa Mota foi campeã do mundo e depois mudaram o nome do Palácio para Pavilhão Rosa Mota, achei muito bem – era uma alteração merecidíssima. Nunca ligamos muito à designação Pavilhão dos Desportos e o nome da nossa Rosinha era o orgulho tripeiro.

Há poucos anos, nova investida e eis que somos surpreendidos com nova mudança – Superbock Arena (Pavilhão Rosa Mota em letras pequeninas). Nunca aceitei isso e agora vejo que foi só por ignorância.

Vi há dias um programa do Joel Cleto, a falar da Superbock, onde revi muitas imagens e conhecimentos da minha infância. Naturalmente que não vivi os primeiros tempos na Praça da Liberdade, com fábrica da cerveja na rua do Laranjal, em 1890, nem sequer os da Fábrica Leão na rua da Restauração. Estas instalações visitei-as muitas vezes já com outro dono e outro ramo. Eram duas pessoas que eu conheci, empregados de um armazém de ferro e ferragens, do Joaquim da Silva Torres, junto às Escadas dos Guindais – o Sr. Santos, empregado de balcão e o sr. Diógenes, vendedor. Fizeram sociedade e formaram uma grande empresa de ferragens e utilidades domésticas – Diógenes & Santos, ocupando todo o espaço da fábrica Leão, na Restauração.

Nesses anos, passava todos os dias pela fábrica da CUFP na rua da Piedade, contígua à de Fiação dos Marinhos. Se a da CUFP se estendia quase até ao Palácio, a dos Marinhos ocupava o resto do quarteirão quase até à rua de Vilar. Quantos camiões carregados de cerveja e refrigerantes da Invicta eu vi sair daquele portão….

Nessa altura, eu só tinha idade para a laranjada Invicta. Quando em Portugal a Coca-Cola estava proibida, na Venezuela – havia coca-cola para as cubas libres, para os grandes e “Pepsi para os niños”. Este niño só tinha direito a malta – Malta Caracas.

Voltando à terra e ao cimo de Júlio Dinis, ficava a Cervejaria da CUFP, na outra extremidade da fábrica, mas os meus tostões ainda eram muito parcos para as tainadas de marisco acompanhadas de girafas (enormes canecas de cerveja). Não bebi, mas vi beber… Mais uma vez – Foi tudo abaixo!

Mota & Companhia e Montepio ergueram por ali “caixas de fósforos” que nunca mais acabavam. Ainda deixaram um cantinho com jardim, chamando a Sofia para emparelhar com a Rosalia de Castro na Praça da Galiza. Mas até o Jardim da Sofia desapareceu. Quando as escadas para a estação do Metro estiverem prontas, voltaremos a ter poesia…

Quanto à minha ignorância – a primeira cerveja da CUFP que recordo – a Cristal - deveu o seu nome, precisamente ao Palácio de Cristal, que à data ainda existia, como tal. Na Exposição Industrial de 1926, a cerveja recebeu o Grand Prix e três medalhas de ouro.  Era um precioso “Crystal”.

A empresa parece ter contribuído para a economia do Palácio que retribuía com as suas belas vistas aos clientes das “bejecas”. Segundo o Cleto, anos mais tarde, um mestre cervejeiro criou a tal Bock, tão extraordinária, que era uma “Super Bock”. Pronto, aceitemos que se actualizada a toponímia do Palácio, seja da cerveja Cristal para a SuperBock, assim fica tudo em família.

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