Paranhos não é terra de montes e vales. Parece que os pontos
mais elevados podem ir dos 90 aos 150 metros acima do nível do mar, pelo que
poderíamos estar a falar de outeiros aqui ou ali. Na fala do povo, ficou sempre
o Monte e por isso lá tentarei chegar ao velho monte de Curraes, que
pertenceria à freguesia, até ao limite da Linha de Cintura, (Caminho de Ferro
do Minho e Douro nesta planta quadriculada de 1903).
É sempre difícil descobrir a origem dos topónimos e os
dicionários e as leis só complicam, repare-se numa portaria de 1985, que define
atribuições da GNR, e que tem lá pelo meio um tal artº 4.º, questionando os “curraes”.
«Quanto às
posturas locais, a fiscalização incidirá especialmente sobre:
a) Higiene das localidades, tomando conhecimento dos focos de
infecção que se produzirem provenientes de pocilgas, currais, estrumes e
curtumes, etc., com prejuízo da saúde pública.»
Ora que “curraes” haveria por aqui para dar origem ao nome?
Se por ali cheira mal o melhor é destruir o monte.
A urbanização foi sempre a maior inimiga dos montes,
mesmo quando ainda tinham de ser abertos a pá e pica e transportada a terra em
carrelas e carros de bois, como bem mostram estas fotos, perto dos Currais, na
construção do Bairro de Casas Económicas de Costa Cabral, junto a Fernão de
Magalhães, nos anos 40.
... E vai-se
derrubando o Monte e abrindo a rua.
Horácio Marçal descreve a aldeia de Currais composta de
casebres imundos, habitados por gente pobre e que ficava entre as escarpas do
monte com o mesmo nome. Nos anos 50, segundo ele, o lugar já possuía «inúmeras
vivendas de feição moderna, não obstante a rusticidade do lugar e das ruas
circundantes que não correspondiam à categoria dos prédios».
Mas como não há festa nem festança em que não estralejem foguetes no ar… Nalgum lado eles tinham de ser feitos e os montes dos Currais eram um bom sítio para uma fábrica de fogo de artifício.
Em 1907, Joaquim José Devesa pede licença para construir um
barraco a 300 metros da via pública, para guardar os artefactos. Em 1908, Joaquim Devesa pede licença para
construir fábrica de artifício. E ou os donos mudavam ou então os Currais eram
o sítio ideal para os fogueteiros e nesse caso, até poderia ter sido conhecido
como o monte dos fogueteiros. Repare-se que três anos depois, em 1911, António
Rodrigues pediu licença para construir um muro de 50 metros por 2 e meio de
altura, num terreno onde estava instalada a fábrica da pólvora, no Monte
de Currais. Muito fogo se fazia por ali.
Para apagar o fogo faz sempre falta água e Horácio Marçal
diz-nos onde a havia -«…entre os montes dos Murganhos e o de
Currais passa estreito valeiro que é percorrido pelo regato deste mesmo
nome – Currais.»
Curioso que a
referência aos montes na sua Monografia é “Murganhos”, embora nas plantas
encontradas eu tenha deparado apenas com “Marganchos”.
Parece que essa ribeira de Currais seria afluente do rio
Tinto. Hoje deve andar encanada por baixo das casas. Por lá também encontrei a presa
das Consortes, que serviria para rega de vários lavradores. A água também
era conduzida para os lavadouros ali perto, onde também não faltavam os
coradouros. Em documento coevo encontrei referência ao rio das Lavadeiras,
que deveria ser a própria ribeira.
Quinta do Semide ou melhor a Quinta dos
Currais
Acho que a designação para a área onde se instalou o
Sanatório-hospital Rodrigues Semide e posteriormente a Universidade Lusíada,
não deveria ser designada por Quinta do Semide, em virtude de Manuel José
Rodrigues Semide, já ter falecido quando compraram aqueles terrenos e nem ele
nem seus herdeiros terem sido deles proprietários. Como o Hospital era do Semide, acharam que a
quinta também era.
Ora na verdade, estamos precisamente em terrenos dos Currais.
Seria o Campo da Bouça ou então como o mestre de obras a designa - “a Quinta
dos Currais”, e que vem referido no pedido de licença entrado na Câmara
para a construção do Sanatório-hospital. Entrava-se ali pela antigo Caminho
de Currais a que depois foi dado o nome de rua de Rodrigues Semide e mais
abaixo a Travessa do Currais passou a chamar-se rua Diamantina.
Agora deixemos o Sanatório Hospital para outro dia, que este Semide também tem muito que contar.
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