quinta-feira, 7 de novembro de 2024

"Uma estrela escondida dos meninos"

Não sei que sentir ou dizer quando descubro que as minhas memórias de infância foram usurpadas ou quiçá descobertas, antes de eu achar que era o único ser na terra conhecedor de tal segredo.

A jóia de hoje é apenas um conjunto de pedrinhas pretas de basalto. Uma circular no centro e cinco triangulares que formavam as pontas da estrela. Estavam bem escondidas, achava eu, de olhares alheios, ali no meio de muitas pedras brancas e pretas, ou da calçada portuguesa como hoje se diz. À época, éramos mais cientistas e dizíamos que era basalto e calcário..

Já agora destacamos todo o véu identificando o preciso local da "estrelinha que te guie". Estávamos na Praça Carlos Alberto, ao lado do Monumento aos Mortos da Grande Guerra. Era um ponto de passagem, quatro vezes por dia, no meu trajecto casa-trabalho. Tinha a superstição de pisar a dita estrelinha sempre que por ela passava. Descobri outra mais à frente, mas mais imperfeita e a quem tinha menor afeição.

Muitos anos volvidos, a calçada foi toda levantada e a estrela desapareceu.

Termino com as palavras do Hélder Pacheco que, como agora descobri ao espiolhar incessantemente o seu livro "Porto", também conhecia a "estrela escondida":

«...poderá descansar uns momentos nos bancos do fundo a contemplar a extraordinária harmonia do conjunto e ... no chão empedrado do jardim havia tal como na Praça uma estrela escondida dos meninos

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