Esta imagem, do Arquivo Municipal, datada de 1933, tem
pormenores que me fizeram pensar, descubro algo, que se calhar passou despercebido
a outros olhares, porque nunca li alguém a falar deste assunto. Vou tentar descobrir
mais um pouco do passado.
A fotografia é da casa do nº 378 da Rua de Cedofeita, mandada
construir por um dos irmãos Braga, na sua quinta, com ocupações desde a escola
Alemã Von Hafe, à Pensão La Fontaine, até ao restaurante la Fontana mais
recentemente, só com o nicho e a Fonte de Cedofeita já inactiva. Isso são
histórias já contadas.
Quanto aos pormenores da imagem, que para mim são “por maiores” os
meus olhos descobriram ”trilhos de eléctrico na Rua da Torrinha”. Conheço
aquelas pedras da calçada, desde 1964 e não recordo, alguma vez, ter por lá
visto ferro. Com as dificuldades de
encontrar folhas da nossa história, perdidas na “rede”, prometo que vou escavar
o assunto por arquivos que um dia visite.
Para já, vamos a factos mais ou menos conhecidos.
Até 1844, a rua de Cedofeita era estrada de saída do Porto, não
era rua pavimentada, facto que só veio a acontecer por volta de 1854, quando os
passeios chegam à Torrinha.
A C.C.F.P. (Companhia de Carris de Ferro do Porto) começou a
estender fio eléctrico como o que se vê na imagem, em algumas ruas já em 1895.
Parece que ficava a cargo da companhia o empedramento da rua, por
onde o eléctrico iria passar, pois eram necessário estender os carris de ferro.
Encontrei no Arquivo do Porto, um
projecto de 1902, para “empedramento a paralelepípedos na rua da Boa Hora, desde o
extremo norte da rua do Rosário até ao extremo sul da rua da Carvalhosa”.
Ou seja, apenas no troço até à Torrinha. Encontrei também um processo de 1906,
para “empedramento a paralelepípedos da faixa de rodagem na rua da Torrinha, desde a rua da
Carvalhosa, até à rua de Cedofeita”. Note-se que à data a actual rua de
Aníbal Cunha era da Carvalhosa. O empedrado vinha desde a rua da Boa Hora até
Cedofeita.
E o eléctrico? Que linha seria?
Numa listagem de linhas de eléctrico de 1912, encontrei a linha
16 – Massarelos – Cedofeita (Torrinha). A informação fica-se pela listagem
das linhas, pelo que não fiquei esclarecido.
Não durou para sempre essa linha. Noutra listagem de 1958, a
linha 16 era Batalha- Matosinhos. O que pode significar que a linha de
eléctrico na Torrinha foi suprimida e quando eu lá passava, já nem trilhos
havia.
Há outro pormenor na imagem que me fez recuar no tempo. A Casa
Pinho já existia na década de 30! Era na esquina da Torrinha do lado
esquerdo até chegar a Cedofeita. Um prédio de azulejo que ainda hoje o mantém,
já remodelado. Era uma espécie de mercearia, mas mais do que isso, uma espécie
de “casa tem tudo”. Nos anos 60, dava a ideia que estava sempre em liquidação –
artigos muito antigos, preços muito baratos e montras muito estranhas. Para a
Torrinha tinha mais de meia dúzia de montras, algumas que não eram mais do que
janelas, com 15 ou 20 cm de profundidade, com acesso apenas pelo exterior da
rua. Os artigos expostos ficavam desbotados e permaneciam meses ou anos sem
alguém lhes tocar.
Na fotografia consigo ver a placa com o nome “Rua da Torrinha” e outra por cima, que adivinho, “Prohibido affixar cartazes”. Ao lado um grande cartaz, a anunciar um qualquer refrigerante, onde também esteve um cartaz do “Vinho do Porto Rainha Santa”, que se foi desfazendo com os anos, como estas palavras…
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